domingo, 5 de outubro de 2014

O que cavaco não disse, mas Sócrates lembrou!

1. No regresso ao espaço de comentário na RTP, José Sócrates voltou a merecer os tratos de polé do costume com grande parte da intervenção a ter por fundo o som proveniente de outro estúdio. Muito embora tenha direito a um pico de audiência por efeito dos que apenas frequentam a estação pública para assistir a este momento, a RTP continua a dar a ideia de tudo fazer para silenciar de vez quem com ela colabora gratuitamente.
Não estivéssemos à beira do fim de um ciclo político, com o próximo já a divisar-se, e seria crível que os responsáveis pela televisão pública ainda aproveitassem algum incidente para alcançarem o seu aparente objetivo.
2. Deixando a forma e partindo para o conteúdo do comentário de José Sócrates voltámos a ter cavaco silva de orelhas a arder pela crítica contundente daquele que foi para ele um inimigo de estimação. De facto, a propósito do discurso das comemorações da implantação da República, foi muito mais significativo o que cavaco calou do que  quanto disse.
Comprometido a garantir o normal funcionamento das instituições republicanas, ele teve oportunidade de ouro para se pronunciar sobre o caos nos sistemas da justiça e da educação, que paula teixeira da cruz e nuno crato transformaram num lamentável caos. E a tal respeito nada disse!
De facto como se comportaria cavaco silva se acaso uma situação desse tipo tivesse ocorrido durante o governo de Sócrates? Desde sempre decidido a ser apenas o presidente da sua fação ideológica, cavaco perdurará na nossa História durante muito tempo, apenas pelas más razões: medíocre como economista, conseguiu ser o exemplo do que o magistrado supremo da Nação não deve ser. E os longos meses em que ainda o teremos de aturar serão uma provação difícil de suportar…
3. Mas não foi apenas pelo que não disse, que se justifica a merecida crítica de Sócrates a cavaco.
Como é possível que se ache com legitimidade para propor compromissos entre quem ainda governa e quem se prepara para o vir a fazer, quando ele próprio foi o exemplo lapidar de quem sempre desconheceu o sentido dessa palavra?
Não se alcandorou à liderança do PSD para derrubar o governo de Bloco Central então existente? Não governou dois mandatos em maioria absoluta e crismou de forças de bloqueio quem se atreveu a contrariá-lo? Não tratou de, a partir de Belém, criar o terreno propício para derrubar o legítimo governo de Sócrates?
O discurso de cavaco silva neste 5 de outubro acabou por valer o mesmo que todos os outros, que tem pronunciado ao longo dos longos anos de presidência: um nítido nulo.
4. Sócrates ainda pôde saudar a vitória de António Costa no domingo passado por ter trazido um novo clima político ao país. À Direita são nítidos os sobressaltos por que passam os dois partidos da coligação que, entre submarinos e tecnoformas, sem esquecer a redução ou não do IRC, andam a esforçar-se por minimizar a dimensão da derrota adivinhada. E, à esquerda, é o que se vê, com Jerónimo de Sousa notoriamente enervado e o Bloco a esfrangalhar-se à medida do sectarismo de quem ainda nele milita.
Resta marinho pinto, que lançou agora o seu novo partido, mas ciente de encontrar menos desesperançados, que se deixem aliciar pelo seu populismo bacoco. É que, se com a direção anterior, o Partido Socialista não capitalizava a necessidade dos eleitores em encontrar uma alternativa consistente - e por isso se deixava iludir pela sua demagogia - a partir desta semana passou a contar com um rosto, uma estratégia e, proximamente, um programa de governo, que promete mudar Portugal nos próximos dez anos, devolvendo-lhe o crescimento e a modernização, que solucionarão muitos dos impasses criados nestes três anos... 

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