sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Maniqueísmos, indignações e negacionismos

 

A modorra estival foi abanada pela prisão de dois prosélitos do Daesh provando que, apesar dos nossos tão propalados brandos costumes, o terrorismo internacional também pode esconder-se nestas coordenadas geográficas. Detetá-lo e agir preventivamente só justifica que se elogiem as polícias portuguesas. E se as direitas tanto quiseram defenestrar Eduardo Cabrita pela morte de um cidadão ucraniano no aeroporto por o considerarem politicamente responsável por esse crime, só podemos exigir-lhes que sigam esse mesmo raciocínio e venham incensá-lo pelo sucesso dos que estão sob a sua tutela neste específico caso. Tanto mais que, quer quanto ao combate aos incêndios quer perante a redução dos mais variados crimes nos últimos anos, esse merecimento confirma-se mais do que justificado.

O facto de sabermos as direitas incapazes de procederem a esse reconhecimento dá ainda maior razão a António Guerreiro quanto ao que, hoje, escreve no «Público» a respeito do grau zero da política, quando olha para os cartazes e constata sobrarem em acusações aos adversários políticos e não exprimirem ideias substantivas, embora absurdamente misture todos no mesmo caldeirão: “ A vida pública e política decorre ao ritmo das grandes indignações e emoções. Governa-se fazendo apelo à adesão emocional, exerce-se a oposição cultivando o tom da indignação. E assim se progride na gritaria infecunda, em zonas perigosas de irracionalidade, de onde a política , em rigor, foi expulsa.”

Mas se achamos que o mal é nosso, que dizer dos negacionistas do aquecimento global mesmo perante os dramas agora verificados em Nova Iorque, Nova Jérsia ou Connecticut? Deveríamos estar a abandonar os recursos fósseis na produção de energia, mas falta tanta vontade política e consciência cívica para que isso se torne um imperativo incontornável. A falta de lucidez não conhece fronteiras nestes tempos atuais. 

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