segunda-feira, 20 de setembro de 2021

As delongas da História

 

Houve um tempo em que tudo parecia mudar com incrível rapidez. O 25 de abril, e todo o PREC que se seguiu, iludiu-nos quanto a essa hipótese, justificando a máxima do maio 68 quanto à equivalência entre o realismo e a exigência do impossível. De repente acabavam as guerras em África onde nasciam novos países, os golpes e contragolpes sucediam-se, as ruas inundavam-se de reivindicações e descríamos do que Nizan escrevera a propósito de se ter vinte anos: vivíamos então os mais belos anos das nossas vidas.

Sabe-se o que se seguiu: o 25 de novembro, a normalização, a entrada na CEE, a grupusculização das esquerdas extremas enquanto as direitas engordavam e revertiam direitos e garantias, que julgáramos definitivamente ganhos. A História refreava os passos e prometia adiar para indefinidos futuros as utopias, que pressentíramos para o dia seguinte.

Os acontecimentos recentes no Afeganistão tendem a confirmar a ilação deles extraída pelo embaixador Seixas da Costa num texto evocativo sobre o 11 de setembro de vinte anos atrás: “A História anda devagar. Olhando para Cabul parece mesmo estar sem grande pressa.”

Sobram, apesar da aparência, as constatações alternativas. Que mesmo dando um passo atrás, as sociedades não tardam a logo avançarem dois para diante quando as oportunidades voltam a possibilitá-lo. Sobretudo quando acontecem aqueles instantes de viragem em que, podendo tender para um lado, as sociedades empurram as dinâmicas de mudança para o outro lado da rede. Como sucedia com a bola de ténis, que Woody Allen representou caprichosamente em «Match Point», quedando-se em precário equilíbrio durante um breve segundo antes de se decidir para onde tombaria. 

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