segunda-feira, 10 de maio de 2021

Bitaites, bolsonaradas e lucros obscenos

 

1. Andam para aí a perorar uns quantos «campeões» da transparência e da anticorrupção, que multiplicam bitaites sobre o assunto apenas com o propósito de maldizerem o governo.

Numa crónica no «Expresso» Isabel Moreira elencou tudo quanto se deve ao Partido Socialista na criação de um quadro jurídico reconhecidamente bom como dissuasor da prática de tais crimes. Olhemos para o que foi aprovado com os votos do PS sempre que este esteve no governo: “quebra do sigilo bancário e fiscal nas fases de inquérito, instrução e julgamento de vários crimes entre os quais corrupção passiva, peculato e branqueamento de capitais, a possibilidade de controlo das contas bancárias por despacho do juiz, o mecanismo de arresto e de perdas de bens a favor do Estado, a criação do conceito de «pessoas politicamente expostas», a criação de um crime de recebimento indevido de vantagem ou a alteração do prazo de prescrição dos crimes de corrupção e de recebimento indevido de vantagem para 15 anos.”

Para contrapor a estes factos deveriam os tais bitaiteiros apresentar outros de tão substantiva importância. O problema é que não têm! Como repetia o «cromo» do RAP “falam, falam, mas não dizem nada”.

2, Aproveitando o lançamento de mais um daqueles livros, que tanto nos levam a lamentar o derrube de umas quantas árvores para aparecerem episodicamente nos escaparates das livrarias, a «Visão» foi entrevistar a autora, uma tal Ana Cláudia Quintana Arantes, médica brasileira, que não faz a coisa por menos: “Um país só pode discutir a eutanásia se der cuidados paliativos a 100% da população. Sem essas condições, não tem maturidade para essa discussão, porque se oferece a morte como alternativa ao sofrimento.”

Comprova-se que a revista em causa anda capaz do melhor (as reportagens de Miguel Carvalho sobre o Chega) com o pior de que esta entrevista é claro exemplo. Porque a criatura denota uma arrogância tal, que ajuíza sobre o que um país pode ou não discutir e até o gradua em maior ou menor maturidade.

Convenhamos que, proveniente de uma geografia balsonariada, que já nem sequer pode ser elogiada como o «pulmão do planeta», mais valia que estivesse calada. Mas, como ainda há quem lhe dê trela, fica mais um vómito de quem quer impor aos outros a sua visão troglodita a respeito do acesso à morte voluntária, vedando-a por exemplo a todos quantos se sintam como o personagem de Anthony Hopkins em O Pai, que desespera por nem reconhecer a filha, nem sequer a si mesmo.

3. Até reconheço que a manobra de Joe Biden a respeito das patentes das vacinas contra o covid vale mais pelo seu lado simbólico do que pela exequibilidade da coisa produzir os efeitos a curto prazo e poupar os muitos mortos acumulados diariamente no Sudeste Asiático com a doença. Mas não deixa de ser obscena a notícia em como, só no primeiro trimestre de 2021, a AstraZeneca, a Johnson & Johnson  e a Pfizer arrecadaram 3,2 mil milhões de euros com as suas fórmulas e que, até ao fim do ano, a Moderna, a BioNTech e a Pfizer esperam registar ainda mais 47 mil milhões de euros com a venda das vacinas.

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