segunda-feira, 3 de maio de 2021

E António Costa a vê-los a passar (muito rasteirinhos...)

 

Esta manhã, ao passar pelo site do «Expresso», encontrei um título eloquente: a sondagem da Aximage daria a soma das direitas 0,4% acima da previsível votação no PS. Contentamento bacoco, porque o autor do título ignorava ostensivamente a previsão do Bloco acima dos 9% e a da CDU encostada aos 6%. O que, por si mesmo manteria a relação 53,1/38,6, que os meses, diria mesmo os anos!, não têm alterado. O eleitorado português continua firmemente ancorado à esquerda e, com o Chega a descer e o CDS a desaparecer (0,4%), nem o título «engenhoso» servirá de breve lampejo de esperança para quem o ler.

Pior ainda a opção de Rui Rio em encostar-se ao populismo de extrema-direita. António Costa disse-o na entrevista ao JN, ao DN e à TSF e o acusado nada melhor teve a contradizer do que chamar «hipócrita» ao primeiro-ministro. Porquê? Lá congeminará na vetusta mente o que o levou a assim o querer desqualificar . Porventura dando razão à constatação de nela ter tantos pontos cardeais que, em comparação, um catavento será exemplo de bem maior coerência.

É claro que Marques Mendes atirou-se como gato a bofe ao entrevistado, mas quem ainda liga aos seus desabafos? No Público David Pontes reconheceu que Rio entregou o centro de mão beijada ao PS e, na última página do mesmo jornal, Rui Tavares enuncia a surpresa de ele se convencer em como só do conúbio com os extremistas alcançará o poder.

Que a própria situação económica e social o não ajudará reconhece o economista Ricardo Cabral ao analisar os dados facultados pelo INE no final da semana transata: “o copo parece tender para o meio cheio. As perspetivas, não obstante a pandemia, são relativamente animadoras no curto prazo.”

Exímio na tática e arguto na criação da estratégia, que mais lhe convém, António Costa está a criar as condições para manter as direitas enredadas nos seus labirintos. O resto continua a ser show business  de má qualidade: como o que é servido pelos proprietários de uma unidade turística de Odemira, que falida e com enormes dívidas ao Estado, ainda se acharam com razão para questionarem a requisição do espaço para aí alojar quem necessite de quarentena. Quando a verdadeira notícia relacionada com a situação aí vivida é a da escravatura e a de tráfico pessoas a coberto do fornecimento de mão-de-obra para as estufas da região.

E enquanto se vai sabendo pela Nature Climate Change que a Amazónia já não é o pulmão do planeta, porque a sua destruição tem lançado para a atmosfera bastante mais CO2 do que tem absorvido, a peça jornalística mais interessante do dia é a entrevista que o Libé faz ao escritor italiano Roberto Saviano a propósito do novo livro cujo titulo remete para o facto de não se conseguirem apanhar táxis no alto-mar. Com fotografias, entrevistas e testemunhos ele denuncia como o Mediterrâneo tornou-se numa das maiores fossas comuns do mundo e como os governos europeus fazem das ONGs e das missões de salvamento os seus inimigos principais.

Aterrorizada com a ascensão dos populismos fascistas, a Europa desagrega-se, indiferente ao facto de, só desde o início do ano, se terem afogado seiscentas pessoas num mar que deveria efetivamente ser nosso.

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