sexta-feira, 28 de maio de 2021

Petulâncias convencionais

 

Razões pessoais têm-me impedido de dar à política, a atenção que costumava dedicar-lhe quando aquelas não tinham a atual pertinência. Por isso mesmo surpreendo alguns amigos, quando me telefonam em busca de novidades e, depois de as enfileirar de acordo com as circunstâncias do momento, me pedem opinião sobre um qualquer assunto de primeira página e eu nem sequer sei do que estão a falar. As mais das vezes constato que têm precisamente alguma relevância mediática nesse dia, mas logo acabam esquecidos, porque não chegam a pegar o rastilho intentado pelos seus candidatos a incendiários. Porque as mais das vezes são fake news ou, no mínimo, suposições infundamentadas, que pretenderiam comprometer algum membro do governo e, muito particularmente, António Costa.

Porque não conseguem expandi-las para além dos habituais círculos complotistas antigoverno acabam cingidas à sua nula importância.

Ontem, porém, dediquei-me a ler o jornal da Sonae de fio a pavio para constatar o quanto as nossas direitas incorrem na mesquinha petulância, bastando para tal olharmos para os discursos dos participantes dessa coisa esdrúxula ocorrida ali para os lados da Junqueira.

Em aparência não faltou quem subisse ao púlpito com a atitude arrogante e vaidosa de quem possuiria alguma qualidade merecedora de ser enfatizada. O exemplo mais evidente foi o de quem na véspera fora condenado por ofensas a pessoas de bem e disse-se representante da terceira maior força política em Portugal sem a qual as direitas não chegarão ao pote. Faltando ainda muita lavagem dos cestos logo se verá qual será o seu efetivo peso eleitoral quando  ocorrer essa vindima. Em fanfarronice não há quem o vença por esta altura.

Mas convenhamos que sendo a falta de predisposição para o diálogo outra das características dos petulantes todos os líderes das forças parlamentares das direitas deram sobejas provas das razões que levaram muitos comentadores a referir que o maior vencedor desta convenção foi ... António Costa! Porque as direitas andam a segmentar-se de modos tão singulares que todas parecem convergir no ataque prioritário a quem supostamente estaria em condições delas se lhe subordinarem acaso pudessem imitar os Açores enquanto modelo de governo sem ideias, sem projeto, mas fundamentalmente concebido para atribuir sinecuras e prebendas.

Sabe-se, também, que o petulante é um ser inseguro, ansioso por ver acariciada a autoestima e valorizado o ego. Desde um que disse nada ter a ver com o centro, que está no próprio nome do partido, até ao que ficou aliviado por tirarem da sua vista a palavra «Direita», com a qual não quer ser confundido, muito embora ninguém duvide do lado para que pende inequivocamente a sua orientação ideológica, a Convenção em causa acabou por ser uma indigesta busca de Godot com o sofá do tio Sigmundo a fazer ali muita falta para resolver umas quantas dúvidas quanto à própria identidade.

Houve ainda outro tipo de petulância, aquela que se confunde com a superioridade, julgando heroicos os feitos passados bastando cultivar o silêncio e a aparente humildade de só ter comparecido para ouvir os demais para cultivar o mito do sebastião desaparecido em dia de nevoeiro, mas pronto a regressar assim por ele suspirem os órfãos das prometidas derrotas futuras.

No fundo os únicos que não se revelaram petulantes ao comparecerem à chamada foram os quatro «socialistas», que serviram de berloques nas lapelas dos organizadores. Mas esses, coitados, ainda que merecedores de qualitativo a começar por p, não justificaram o uso de tantas letras. Foram simplesmente parvos.

A grande novidade da leitura do jornal em causa acabou por ser a crónica da última página, aquela que é confiada a João Miguel Tavares e em que ele conclui que, relativamente à sentença favorável à família do Bairro Jamaica, “o tribunal tem toda a razão. A demagogia às vezes sai cara — e chegou a hora de Ventura pagar.” O que significa basicamente isto: prevendo que aquela excrescência partidária anticonstitucional não tem grande futuro, o articulista já se está a querer dela pôr-se a milhas. O que não deixa de ser elucidativo!

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