quinta-feira, 16 de junho de 2022

O culpado da crise na Saúde é o suspeito do costume

 

Se existem enormes carências em médicos para integrarem os sistemas mais ou menos públicos de Saúde - notícia em Portugal, mas também em França, no Reino Unido, em Itália e outros países ocidentais! -, é porque está em causa a razão de fundo, que mais tem sido escamoteada pelos telejornais nos últimos dias: os grupos económicos entenderam-no como setor de atividade onde os lucros podem ser imensos e tudo têm feito para que se cumpra a regra em tempos enunciada como desejável por um deputado das direitas na Assembleia da República ao anunciar um mundo em que quem ter saúde a deverá pagar.

É o selvagem neoliberalismo que justifica estas circunstâncias e precisa ser empenhadamente combatido.

A resistência com que, mesmo em governos socialistas, se encararam os contratos de exclusividade (inexistentes desde 2009) e, em contraponto, se deixaram proliferar as empresas de tarefeiros, foi estratégia, que contou ainda com a oposição dos Ministros das Finanças em autorizarem a contratação de especialistas. Todos eles, intencionalmente ou não, abriram uma estrada de tijolos amarelos às empresas privadas, cujos hospitais e clínicas atraíram grande parte dos insuficientes médicos, que a Ordem autorizou a formarem-se.

Daí que a solução não seja a de se criarem planos de contingência ou para o verão como o anunciou Marta Temido ou fazer acordos com as maternidades privadas para que o Estado ainda mais as financie, transferindo-lhes as verbas, que tanta falta fazem para que a Saúde universal e tendencialmente gratuita seja o direito constitucional respeitado para todos nós, cidadãos a viver neste cantinho à beira-mar plantado.

Se pouco de socialismo têm havido nas políticas dos sucessivos governos do meu partido - onde tem primado a ideologia dessa coisa insonsa, nem carne, nem peixe, que é a «social democracia» -  ainda mais lapidar verdade é na Saúde, para desgosto de António Arnaut se acaso pudesse ver a embrulhada em que se converteu aquilo que sonhou como uma das mais decisivas vitórias da Revolução de Abril.

Se a pandemia demonstrou as virtudes do SNS no seu melhor, o business as usual tende a asfixia-lo de vez se, com esta ministra ou sem ela, António Costa não pegar a sério na sua salvação e tardar nas medidas, que se impõem.

Sem comentários:

Enviar um comentário