1. Normalmente costumo encher o depósito do carro, quando o ponteiro chega a meio. Até há pouco gastava à volta de 50 euros na operação, agora vai muito para além dos 60. Eis um sobrecusto imediato da guerra, que prossegue no leste-europeu e para o qual os políticos da NATO não cessam de atirar mais lenha para queimar. Bem pode Kissinger dar conselhos avisados ou Macron alertar para o óbvio, que logo são destratados abaixo de cão por um ex-comediante, que ganhou notoriedade global neste momento histórico anteriormente cingida ao seu interno palco. Agora, diariamente, ouvimos-lhe as preleções televisivas sem direito ao contraditório embora nos questionemos quanto mais têm aumentado as suas contas offshore, de que não voltámos a ouvir falar depois do consórcio internacional de jornalistas as ter encontrado entre os chamados Pandora Papers.
Tendo em conta que 60 também foram os euros gastos cá em casa se contabilizarmos a nossa parte dos 250 milhões levados por António Costa a Kiev para lhos meter no bolso e demonstrar que não está menos com ele do que o estarola ao comando da NATO, mais os 50 milhões deixados em Varsóvia para ajudar o reconhecidamente pouco democrático regime, aí tutelado pelo gémeo sobrevivente da fratria dos Kaczyński, convenhamos que a guerra está-nos a ficar demasiado cara. Para não falar da fatura mais pesada nas compras no supermercado do costume.
Agora é um secretário de estado norte-americano que quer um aumento das nossas despesas militares muito para cima dos 2% para dar satisfação aos fabricantes de armamento do sinistro complexo militar contra o qual atempadamente Eisenhower nos avisou. Como escreve Carlos Matos Gomes num seu artigo sobre o assunto “os cidadãos europeus deviam perguntar aos políticos como justificam o aumento de despesas militares! É que o dinheiro “pode” fazer falta para necessidades reais, para ameaças reais resultantes de desastres ambientais, de pandemias, de envelhecimento da população, de empobrecimento, de migrações, de fome…”
2. À luz da urgência climática a decisão até devia ser saudada, mas o fecho da refinaria da Galp em Matosinhos é questionada pelo economista Ricardo Cabral à luz da justificação, que a fundamentou há dois anos: dava prejuízo. Agora que o contexto se alterou e a atividade geraria lucros que compensariam lautamente esses prejuízos, Cabral pergunta se não existirá um forte arrependimento na administração da empresa por a ter tomado ademais contra os interesses do país que viu dificultado o fornecimento de produtos refinados necessários à atividade de outras indústrias. Razão para a pergunta pertinente com que se conclui o artigo: fica (...) a questão sobre se a alegada eficiência da gestão privada da Galp não é um mito que destrói valor aos acionistas (e ao país)?
3. Acabou o Jubileu de Isabel II e tudo aquilo cheirou a mofo tão longe anda a decadente Inglaterra das grandezas imperiais passadas, sobretudo tendo em conta que irlandeses, escoceses e até galeses andam desejosos de se livrarem da sua tutela colonial. Por tudo isso a festa lembrou o conhecido romance de Steinbeck sobre os rios que, antes de definitivamente secarem, dão a ilusão de um súbito fulgor como se ainda tivessem a possibilidade de ressuscitarem. Os monárquicos, que ainda se ufanam de curvarem-se perante tão decrépita instituição, deveriam convencer-se de não haver água que volte a passar duas vezes pelo mesmo local do curso do rio, não havendo possibilidades de ele se encaminhar para as páginas passadas da Historia da Humanidade.
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