sexta-feira, 17 de junho de 2022

Alucinações anarco-liberais

 

Foi há pouco mais de dois anos e meio, que nos foi dado a conhecer uma alucinada criatura que, de olhos esbugalhados, exultava com a conquista de um lugar parlamentar para o partido a que, então, presidia. Guimarães Pinto, como então ficámos a saber se chamava, deve-se ter assustado com o que o esperava e cuidou de logo passar a incumbência a Cotrim de Figueiredo, que conseguia configurar-se mais conformemente com os padrões comportamentais de um deputado da República.

Dois anos depois eis que o breve idílio com uma juventude tonta na atração por uma certa anarquia social - e por isso permeável aos cantos de sereia vindos das direitas! - resultou numa mão-cheia de novos deputados, entre os quais viemos a reencontrar a mesma delirante criatura, agora aureolado da fama quanto a ser um iluminado capaz de ver no ultraliberalismo a solução para o seu futuro pessoal e o de uns quantos amigos tão-só os reconheçam como imaginativas marionetas dos que querem que as coisas continuem a ser como são na distribuição de rendimentos, se é que não se consiga que mais desiguais ainda se tornem.

Confesso que não vi o discurso que Guimarães Pinto proferiu esta semana na Assembleia da República, mas ele é todo um programa do logro que constitui esse partido para essa juventude, momentaneamente para ele atraída. Mas é preciso descaramento para acusar de xenófobos os que querem obstaculizar uma ainda maior gentrificação das nossas principais cidades, donde são varridos os habituais moradores para darem lugar aos que têm dinheiro para comprarem apartamentos a valores por metro quadrado inalcançáveis para quase todos os cidadãos nacionais. Indignando-se com quantos exigem políticas de habitação, que facilitem o acesso a habitação digna  aos jovens portugueses - como se praticam nos países da Europa do Norte, que os «liberais» tomam como falacioso modelo -, Guimarães Pinto deu-lhes uma alternativa à medida da configuração das suas atoleimadas meninges: que vão morar para o interior, como se lá encontrassem os empregos estáveis, que nas urbes só como precários encontram, porque direitos laborais é coisa que ele os associados execram.

Não sei que outras lerdas ideias ainda viremos a ouvir do insólito deputado, mas prometo ficar-lhe mais atento. Quanto mais não seja para aferir até onde pode chegar a inépcia desse tal pensamento «liberal», criativo na sua publicidade, mas a valer zero em consistência política. 

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