Se agíssemos racionalmente não precisaríamos de novo aeroporto em Lisboa. Para diminuirmos a pegada poluidora deslocar-nos-íamos menos de avião e aproveitaríamos melhor os recursos tecnológicos, que tornam possíveis as reuniões de negócios ou as conferências e seminários à distância. Mais: as opções turísticas tornar-se-iam mais restritas se os passageiros para destinos exóticos vissem incluídos nos preços dos bilhetes de avião o justo custo de quanto contribuem para o aumento dos gases com efeito de estufa na atmosfera.
Reduzidas ao estritamente necessário - em causa própria falo da necessidade de visitar familiares noutras geografias! - as viagens de avião diminuiriam bastante em número e exigiriam menos pistas para acomodar essa nova realidade. Seria assim exequível o cumprimento da meta de não ver ultrapassado o 1,5ºC, que os cientistas referem como o limiar a partir do qual os cenários distópicos serão mais frequentes e cataclísmicos.
É claro que esse cenário assusta quem vive do turismo de massas e se alheia dos seus danos ecológicos. Mas é o futuro da nossa civilização, que está em causa e, mais cedo ou mais tarde - preferivelmente agora em vez de procrastinar a mudança de comportamentos - não há como passar por essa opção de força maior.
Vem isto a propósito do caos dos últimos dias no aeroporto de Lisboa e a manifesta vontade do governo em ver o maior partido da oposição a associar-se-lhe numa decisão de regime quanto à respetiva solução. Manter a decisão relativa ao Montijo, que vem do (des)governo de Passos Coelho? Alterar para Alcochete a alternativa à Portela? Ponderar noutras alternativas, que incluam a Ota, Beja ou uma qualquer outra solução, que não tenha sido até agora formulada?
Bem pode António Costa ficar sentado à espera que a nova direção do PSD adote comportamento responsável e ajude a desembrulhar um problema, que foi incrementado por esse seu antigo primeiro-ministro, quando decidiu entregar a ANA ao grupo Vinci e tornou este codecisor interesseiro numa solução, que renda o máximo pelo menor custo possível para si. Já se viu que, a exemplo do que tem sido sua prática recorrente sempre que está na oposição, o PSD contentar-se-á com a sempiterna obsessão de dizer o pior possível do que faça, ou deixe por fazer, o governo socialista.
Neste momento não sei qual será a melhor decisão embora seja sensível aos custos ambientais de uma hipótese, a do Montijo, que colide com as rotas migratórias de espécies, que transitam pelo estuário do Tejo. Mas é altura de, fazendo orelhas moucas aos que não fazem nem deixam fazer, o governo tome uma decisão fundamentada, que acabe com este impasse de há longas décadas. Sem deixar de, incessantemente, denunciar quanto o PSD contribuiu para criar o problema e, agora, tudo faz para que ele não encontre a menos má das suas possíveis soluções.
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