segunda-feira, 13 de junho de 2022

Entre o pindérico e o parvo

 

1. Como de costume a saborosa crónica de hoje de Carmo Afonso no «Público» é merecedora de atenta leitura por tratar da condecoração atribuída por Marcelo Rebelo de Sousa ao enfermeiro, que mereceu elogios de Boris Johnson por o ter tratado, quando esteve com covid.

Conjetura a articulista: “vamos supor que o enfermeiro Luís tinha prestado os seus cuidados de saúde a um operário inglês. Nada feito. Não haveria condecoração. E se os tivesse prestado ao primeiro-ministro de um pequeno país africano? Estamos a entrar em matéria muito embaraçosa, mas diria que não; também não haveria condecoração nenhuma.” Porque há quem seja pindérico, quando os supostamente poderosos nos dão atenção até valorizando a escolha de Obama por um cão de raça lusa. Por isso mesmo a conclusão tem a ver com o comportamento de Marcelo e dos que se prestam a tão indecorosas figuras: “não basta sermos pobres, também tínhamos de ser parvos.”

2. Confesso que não gosto de hip hop. Ainda menos do que da pop e do rock, que, por esta altura, levam multidões aos festivais, e enchem os bolsos aos Covões, aos Montezes & Cª. Mas daí a estabelecer uma relação causa-efeito entre aquele género musical e o aumento da criminalidade, como o faz um relatório policial conhecido por estes dias, parece um exagero. A música, mesmo má, não justifica que se lhe atribuam razões, que a sociologia demonstra situarem-se noutras direções politicamente menos convenientes. Que irão, inevitavelmente, dar à incontornável luta de classe, que o nosso tio Carlos tanto enalteceu.

3. As conclusões do inquérito sobre os acontecimentos de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio de Washington indiciam maior responsabilidade de Donald Trump no comportamento da turba ululante e golpista do que se percecionava. Ele promoveu aquela que constituía a única hipótese de manter-se na Casa Branca e prosseguir a deriva dos Estados Unidos para uma realidade ainda mais fanatizada do que a atual.

Seria desejável que daqui resultasse o impedimento de voltar-se a candidatar ao cargo em 2024, porque, acaso vença, pode-nos devolver a ainda mais tenebrosa perspetiva quanto ao futuro da nossa civilização. 

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