sexta-feira, 27 de maio de 2022

Irrelevâncias caseiras, mas pertinências globais

 

1. Estamos no fim-de-semana do congresso do PSD e confirma-se aquilo sobre que Manuel Carvalho, diretor do «Público», se carpia um destes dias: ninguém anda a ligar se será Montenegro ou Moreira da Silva quem figurará como principal líder de oposição ao governo de António Costa. O entusiasmo é tanto, que o assunto é remetido para as páginas interiores dos jornais e para meio dos telejornais.

Na deriva para a (definitiva?) irrelevância, que nem sequer se ilude com o nevoeiro capaz de trazer de volta o sebastião de Massamá, o partido laranja não consegue esconder a defeção de militantes e de quadros de “qualidade”, condenando-se a uma mediocridade cinzenta, que torna merecedora a desatenção a que é sujeito.

2. Para quem teime em olhar para a economia mundial com outros filtros, que não os da análise marxista, será difícil justificar a realidade agora denunciada pelo relatório da Oxfam: em vinte e quatro meses de pandemia as maiores fortunas cresceram mais do que nos vinte e três anos anteriores. Em cada trinta horas surgiu um novo milionário, quase ao mesmo tempo que um milhão de pessoas caía na pobreza extrema. Assim se chega ao absurdo de somar o PIB dos 46 países da África subsariana para equivaler à fortuna dos vinte mais ricos do mundo. O mais sinistro de entre eles, Elon Musk, poderia perder 99% da fortuna e ainda assim continuar a integrar a lista dos 0,0001% mais ricos do mundo.

Se isto não justifica uma Revolução, que corrija tão desigual distribuição de rendimentos, não se encontrará razão maior.

3. À medida que as derrotas e perdas de vidas de militares ucranianos se vão acentuando, as notícias sobre a guerra perdem o foco mediático e parece voltar a vontade de Zelanskii em negociar. Até por ter quem, como Henry Kissinger, apele a alguma sensatez no trato com os russos, e porque o vazadouro de dinheiro e de armamento oriundo dos aliados ocidentais vai começando a pesar no entusiasmo por uma guerra, que tarda em dar-lhes o retorno prometido por um presidente norte-americano apostado em acumular gaffes, depois corrigidas pelo próprio ou pelos mais diretos colaboradores. A da guerra com a demonstrativa de como Biden pede meças a Putin sobre qual dos dois será o maior falcão. Porque a guerra da Ucrânia é a da Rússia e dos Estados Unidos num ajuste de contas herdado da guerra fria resultando o martírio dos que para ela não pregaram prego nem estopa, mas lhe pagam todos os custos, em vidas e outras formas de sofrimento.

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