domingo, 15 de maio de 2022

Cenas de lutas de classes nos Estados Unidos

 

Vladimir Vazak é, de entre os repórteres do canal ARTE, o autor de alguns dos trabalhos mais interessantes nele emitidos como, recentemente, aconteceu com os que rodou nos Estados Unidos.

Em Brockwood, Alabama, foi ao encontro de mineiros em greve há dez meses, porque a empresa local não lhes repôs os salários de acordo com o que recebiam antes de uma momentânea crise, que os levara a aceitar um corte transitório. Agora, retomados os lucros significativos, os seus acionistas não quiseram discutir o regresso à situação anterior, que possibilitaria a melhoria efetiva na qualidade de vida dos seus trabalhadores.

Para muitos dos grevistas a descoberta do significado das lutas sociais - só conhecidas de longínquo passado e vividas por gerações anteriores - conjugou-se com outra novidade: a da solidariedade de e com trabalhadores ligados a outros setores, como os da Amazon ou da John Deere.

Vazak testemunhou-lhes a determinação e a consciência de classe, mas também as contradições: muitos confiaram-lhe a crença do regresso de Donald Trump à Casa Branca por o julgarem amigo dos trabalhadores, e todos, no fim de cada reunião sindical, partilharam uma oração debitada pelo pastor da igreja evangélica em que confiam.

A mil e quinhentos quilómetros a noroeste dali, fica Aspen, a cosmopolita estância de esqui do Colorado. Em tempos também fora cidade mineira, mas a partir dos anos 60 do século transato, começou a ser frequentada pelos mais endinheirados dos norte-americanos, que ali vêm dedicar-se aos desportos de inverno. Mas com um efeito problemático: o custo de vida, e mormente o da habitação, é proibitivo, o que impossibilita a fixação dos que trabalham para a comodidade dos praticantes dessas atividades de lazer. Daí que cresça o défice entre a oferta de emprego e a sua procura, agravado pelo abandono da região pelos que costumavam arcar com as tarefas de manutenção e limpeza dos hotéis ou das residências particulares.

Decidida a arranjar uma solução a câmara local propôs a construção de bairros de habitação social, mas a intenção foi liminarmente rejeitada pelos políticos locais, que representam os interesses desses ricos e desejariam ver-se satisfeitos nas necessidades, mas sem pagarem os custos para tal. Daí a sensação de se atingir um patamar de rutura, que os mais lúcidos identificam como iminente, mas não sabem como solucionar. Até por estender-se a outras cidades e setores onde esta realidade se replica.

No país do tio Sam as contradições entre ricos e pobres aumentam e, nalguns casos, não parecem distantes das imprevisíveis explosões sociais. Embora com características aparentemente diferentes das que costumavam constar das habituais análises marxistas, também elas a carecerem de urgente atualização. 

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