sexta-feira, 13 de maio de 2022

Nada inocentes inquietações com a espionagem em Portugal

 

A suposta espionagem na Câmara de Setúbal tem dado o mote a uma campanha russófoba e anticomunista, que nada tem de inocente, mas, convenhamos haver no presidente daquela autarquia uma inabilidade manifesta, quando pretende sacudir a responsabilidade para cima do governo. Que, por outro lado, vê-se obrigado a ensinar à oposição, como se no seu todo fosse muito burra, em particular Rui Rio, o que é ou não legal no respeitante aos assuntos relacionados com a segurança nacional.

E, no entanto, muitas questões poderiam ser levantadas a partir das que tiveram epicentro na embaixadora da Ucrânia, cujo protagonismo, enquanto arma das direitas para disparar contra as esquerdas, tem confirmado a sua falta de elegância e de diplomacia para exercer o cargo, que se pretenderia imune a suspeições quanto a preferências políticas pelo espectro partidário nacional.

Por exemplo:

 - será que todos os russos radicados em Portugal são pró-Putin ou muitos até são seus manifestos opositores (vide os que tanto pugnaram para que Medina perdesse a autarquia da capital e se congratularam com a vitória da aliança de direita personificada em Carlos Moedas!)?

 - será crime considerar que existe uma lógica argumentativa da Rússia, a ser levada em conta dada a forma como foi tratada desde a implosão da União Soviética, mesmo que se discorde da forma como se expressou a partir de 24 de fevereiro?

 - será que só os eventuais espiões russos são um problema para a segurança nacional ou os que os norte-americanos (entre outros) também aí têm - provavelmente em muito maior número! - também o são, sem que haja quem no Parlamento com eles se preocupe?

Manda a realidade reconhecer que, contrariando o patriotismo de que são capazes de encher a boca com essa palavra, todos quantos exigem informações dos serviços secretos - desde o tal autarca de Setúbal ao inquilino do Palácio de Belém - ignoram, ou fingem ignorar, que essa é uma área da segurança nacional, que tem de se cingir àquilo que consta da sua própria designação: secreta. Mesmo que - e o exemplo está a confirmar-se aqui ao lado em Espanha onde independentistas catalães estavam a ser alvo de ilegítima investigação! - deva ser devidamente investigada e controlada por quem, constitucionalmente, está mandatado para tal. 

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