domingo, 3 de março de 2024

Bastos motivos para um otimismo cético

 

1. A uma semana de podermos comemorar abril mês e meio antes da efeméride, sinto-me como Saramago, quando confessava ser um otimista cético. Se sobra consciência do muito que a bolha mediática tem feito para tornar credível mais um rosto sinónimo do que Musil crismou de homem sem qualidades, a entrada em cena da galeria de horrores ligados às ADs do passado deve bastar para o Partido Socialista concentrar o voto dos indecisos.

Isso mesmo reconhece Ana Sá Lopes na última página do Público de hoje: “A campanha do PS foi entregue, nos últimos dias, a altos representantes da Aliança Democrática. Não foi preciso mexer. É das coisas básicas da teoria política que, quando  o adversário está a alucinar, é ficar a ver (e a aproveitar). (...) A estratégia de recentramento está a ser uma desgraça e já falta muito pouco tempo para as eleições.”

Insuspeita de simpatias pelo PS, que frequentemente tem zurzido nos seus escritos, a jornalista estará a reconhecer uma evidência a consolidar-se nas redações dos media e até justifica o lapsus linguae  de Nuno Melo.

 2. As televisões também não conseguiram iludir a galvanizadora presença de António Costa no comício do Porto no mesmo dia em que todas as agências de rating reconheceram a notação máxima para a dívida portuguesa e em que dele se fala para um dos principais cargos europeus.

O ainda primeiro-ministro terá lançado o mote para uma semana em crescente afirmação da candidatura, que significará uma mudança efetiva das políticas, mas alicerçada no muito positivo, que fica destes oito últimos anos de governação, mesmo enfrentando as circunstâncias - a pandemia, a guerra na Ucrânia com a inflação a ela associada - que não encontraria melhor alternativa entre quem, demagogicamente, só tem procurado cavalgar a frustração de quantos não viram satisfeitas as legítimas aspirações.

 3. Ódio de estimação de Cavaco Silva - do qual, e ao contrário de Mário Soares ou Jorge Sampaio, nunca ninguém se lembrou para, depois de reformado, ser convidado para nenhum cargo internacional -, António Costa tenderá a dar esse passo, prestigiando o país na linha de António Guterres à frente da ONU E ao contrário doutro cabeça-de-cartaz da direita, Durão Barroso, de que todos se lembram como arrivista sem escrúpulos, apostado em servir-se das ligações políticas para ir tratando da sua vidinha.

 3. O eclipse por que vai passando o Chega nos comícios em ambientes fechados, só foi brevemente iluminado por mais uma revelação eloquente: a Entidade das Contas e Financiamento dos Partidos suspeita de centenas dos donativos, que o financiam.

Comportando-se como o ladrão decidido a distrair de si as atenções, Ventura vai gritando, que o meliante está em fuga mais adiante. Transparência é algo que não acontece com quem procura evitar maior escrutínio, escusando-se a apresentar as contas, que legalmente deverá divulgar.

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