1. Billy Wilder pôs-nos a ver Marilyn transformada em Sugar Kane Kowalczyk para justificar a regra de quanto mais quente melhor (pelo menos na tradução lusa!), mas estes dias tórridos desmentem a regra: tempo demasiado quente incomoda-nos a sério, dão-nos conta (sobretudo aos séniores) das fraquezas e, sobretudo, confrontam-nos com os efeitos descontrolados das alterações climáticas. Pensando na lapidar frase do senhor Vladimir - que fazer? - não sabemos como dar a solução mais sensata para o anunciado apocalipse: o fim do capitalismo e a sua substituição por um ecossocialismo inevitavelmente musculado, porque não faltarão os indignados com os prejuízos de não continuarem alegremente a alargar, mais e mais, a pegada de carbono, que insistem vital para os seus privados interesses.
São muitos os que constatam não haver futuro para a continuidade da civilização humana no planeta azul se não se der o capitalismo como bem morto e enterrado, quiçá preferencialmente cremado para evitar invocações de mortos-vivos. Só não se sabe como impor a todo o planeta uma Visão sustentável, que implique melhor redistribuição das riquezas e contenção racional dos consumos.
2. Que entusiasmo o de alguma comunicação social com a suposta contraofensiva ucraniana em Kherson! E, no entanto, apesar de provável logro, como não compreendê-la como artifício de propaganda de Zelenski ao ver nuvens densas a toldarem-lhe o horizonte com os arrepios por que passam os alemães com o verem-se já sem o gás natural fluído pelo North Stream - condenando muitas fábricas a fecharem e a perspetivarem um inverno gélido nos lares dos que com ele se costumavam aquecer - e o fracasso da perspetiva de reduzir o custo do petróleo russo no mercado internacional através do preço dos seguros dos petroleiros, que o transportam para países não aderentes às sanções ocidentais.
Putin é, indubitavelmente, um execrável ditador, mas no xadrez da política mundial, tende a desmascarar como incompetentes amadores os que criaram o cerco político e militar à Rússia sem cuidarem das consequências, que a prazo, implicaria. Por isso Zelenski precisa da mais ínfima hipótese de um êxito militar para animar as hostes e adiar uma derrota, que se vai perfilando em diversas frentes.
Por estes dias os que se cingiram às “posições de princípio” para condenarem a invasão da Ucrânia sem olharem para a complexidade do que ali está em causa, devem viver no mesmo desconcerto que Daphne/ Jack Lemmon no final do mesmo filme de Wilder, ao deparar com a impensável resposta de Osgood Fielding perante a confissão de ser um homem.
Nesta altura Putin não está preocupado com nenhuns preconceitos ou, na perspetiva ocidental, pré-conceitos! Espicaçaram o urso, que dentro dele existe, e agora atenham-se com a sua fúria irracional. Que, é claro!, adia mais e mais, a mais do que urgente transformação política e social capaz de possibilitar futuro às gerações, que nos sucedam.
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