segunda-feira, 11 de julho de 2022

Um limiar que não deveria ter sido transposto

 

As praias até podem estar muito agradáveis garantindo momentos retemperadores a quem as procura nesta altura. Mas não podemos alhear-nos das temperaturas acima do normal e da secura, não só no ar que respiramos, mas também nos solos alavancados na inquietante erosão. Por muito que as notícias se focalizem na guerra do leste europeu - agora menos, porque os russos vão levando a água ao seu moinho com a consolidação dos ditos territórios separatistas - são as alterações climáticas a merecerem atenção por muito que António Guerreiro considere que  ”já se ultrapassou o limiar em que a situação depende da ação humana e tudo o que está a acontecer se tornou irreversível.”

Esperemos que a justificada tentação de ordenar o confuso leve os europeus a tomarem direção diversa da decidida pela Comissão Europeia na subserviência a um império tão em declínio - os EUA - quanto aquele com que se confronta, por interposto exército, nas vastidões ucranianas. Porque se Putin sabe-se condenado perante um futuro menos ávido de hidrocarbonetos, os Estados Unidos avançam à medida da senilidade dos seus dois mais recentes titulares da Casa Branca: se aspiram manter-se como polícias do mundo veem esboroada a pax americana, que lhes assegurou a acumulação de riqueza dos seus próprios oligarcas. A ambição de manterem as coisas tal qual estão, desmente-se nos cenários de miséria extrema constatáveis nas principais cidades e nas,  perifericamente, por todos esquecidas.

Não duvido que, distinguindo-se dos colegas europeus, António Costa intui o que deveria ser feito e não inclui uma total submissão à liderança política e militar americana. Por isso não disse a Zelenski o que ele gostaria de ter ouvido. Mas há um problema grave com que o nosso primeiro-ministro se confronta: não é só Montenegro, ou os demais líderes da oposição interna, que pensam no diminutivo. São os próprios líderes europeus, que desdenham do seu próprio poder enquanto superpotência, que poderiam construir, em vez de se deixarem  enlear por preocupações distintas das que hoje já são prementes. Como aquela conjunção de avalanches nos Alpes e caos nos aeroportos, que pressupõem o tal niilismo referenciado por António Guerreiro e que estamos obrigados a superar aceleradamente. 

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