Anos atrás Robert Linklater foi incensado pelo «achado» de esperar doze anos para concluir um projeto - Boyhood - que implicava ir rodando as cenas com o jovem protagonista à medida que ele ia crescendo.
Antes de Linklater Phil Grabsky fez o mesmo com Mir Hussein durante vinte anos e, para além do reconhecimento de uns quantos festivais, não consta que o tenham promovido a quase estatuto de génio como sucedeu com o colega texano.
A primeira vez que o realizador britânico deu com o rapaz tinha ele 7 anos e vivia com a família nas grutas de Bamyân já depois dos talibãs terem destruído os Budas com a sua artilharia pesada.
Nos anos seguintes foi acompanhando a evolução do rapaz, primeiro reencontrando-o na terra natal, onde faltava à escola para ajudar a família no pastoreio ou, depois, enquanto mineiro nas jazidas de carvão. Por essa altura já Grabsky montara o material com ele filmado em dois documentários: The Boy who plays on the Budhas of Bamyân (2004) e The Boy Mir (2011).
O regresso ao Afeganistão aconteceu em vésperas da saída da NATO do seu território, justificada pela morte de 3500 dos seus militares e quando Mir, já com 27 anos, associou-se ao realizador enquanto operador de câmara apostado em colher imagens do caos criado pelos atentados suicidas, um dos quais quase o vitimou. Casado com uma rapariga, que se revela bastante lúcida perante as circunstâncias em que vivem, Mir é mais um dos que, na semiclandestinidade de Cabul, procura solução para, na emigração para o ocidente, garantir à família o sossego e a qualidade de vida ali impossibilitada.
Pelo rosto concreto do rapaz e dos familiares fica o retrato eloquente de uma realidade política, que constitui uma nódoa - mais uma! - no criminoso imperialismo norte-americano.
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