terça-feira, 19 de julho de 2022

Mas quereremos continuar a enganarmo-nos?

 

1. Os incêndios, que varrem a Europa, e não atingem ainda as dimensões noutros anos conhecidas na Austrália ou na Califórnia, dão às populações a noção das alterações climáticas, que já ninguém consegue desmentir apesar das campanhas de desinformação dos vinculados aos interesses do petróleo. Numa das televisões um aldeão trasmontano rendia-se ontem à evidência e questionava o que deixaria como legado aos filhos e aos netos tendo em conta, que só lhe sobrava a terra seca e as árvores queimadas.

Daí que António Costa discursasse sobre o assunto e lhe desse a devida importância, prescindindo até dos galões de Portugal poder orgulhar-se de, em 2021, ter sido o país europeu capaz de mais reduzir as emissões de carbono para a atmosfera (menos 5,5%). Mas, nesta matéria, o país arrisca-se a ser como aquele bom cidadão, que limpa o mato na sua pequena propriedade, embora venha a ser prejudicado pela incúria de todos os vizinhos: é que, à exceção da Finlândia, que também reduziu, mesmo que me menor percentagem, a sua pegada carbónica, todos os demais países europeus aumentaram-na no mesmo período.

2. E eis que Pedro Nuno Santos continua a ter plenamente razão: embora compareça ao encontro com o primeiro-ministro para discutir a nova localização do aeroporto de Lisboa, Luís Montenegro já disse nada adiantar sobre o que pensa. De facto interessar-lhe-á tão-só ter as televisões a entrevista-lo à saída desse encontro e, a seguir, pegar nos argumentos dos que contestarem a decisão do governo, comprando-lhes as teses sobre os prejuízos em detrimento dos contrabalançáveis benefícios.

3. Em Lugano uns quantos economistas começaram a discutir a reconstrução da Ucrânia propondo a receita habitual da cartilha neoliberal: sonegação dos direitos de quem trabalha, acentuando a precarização dos vínculos laborais, além da privatização de tudo quanto o puder ser. No entretanto Zelenski vai aprovando leis no parlamento, que já vão nesse sentido: facilitar a exploração dos trabalhadores por oligarcas para os quais o ocidente olha com a simpatia, que deixou de ter para com os apaniguados de Putin.

4. Sem pudor John Bolton deu uma entrevista à CNN na semana transata e, num assomo de gabarolice, revelou ter passado quase toda a carreira diplomática a preparar golpes de Estado contra governos antipáticos para o Departamento de Estado. E mostrou-se convencido de que assim foi, é e sempre será.

No caso presente temos Biden a secundar o governo de Zelenski contra a agressão russa, apesar das muitas provas em como o cómico ucraniano sempre esteve longe de ser um menino de coro eivado de princípios admiráveis. Mas como não entender essa propensão dos Democratas em portarem-se exatamente com a mesma agressividade dos Republicanos se tiveram no seu historial a invasão da Baía dos Porcos sob Kennedy, o derrube de João Goulart sob Lyndon Johnson, ou a do hondurenho Manuel Zelays sob Barack Obama?

Republicanos ou Democratas, os políticos americanos pedem meças a Putin nos propósitos imperialistas e justificam que Lindsay O’Rourke tenha contado 64 mudanças de regime durante a Guerra Fria, inspiradas pelas ações da CIA e do Departamento de Estado, 44 das quais destinadas a imporem regimes autoritários.

Perante este cenário entende-se que se passa na Ucrânia algo muito diferente da narrativa maniqueísta que nos vai sendo vendida. 

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