Uma das respostas mais estúpidas que, amiúde, é dada por quem me lê os textos, e se incomoda com a crença neles manifestada sobre o irreversível fim do capitalismo, substituído por uma sociedade socialista mais igualitária e justa, é não haver exemplo histórico bem sucedido de tal utopia. Falhou na União Soviética e em todos os países do leste europeu, tornou-se numa terrível tragédia no Camboja, continua a não resultar em Cuba ou na Venezuela, e travestiu-se noutra forma avançada de capitalismo na China.
Para esses críticos está bem de ver o que daqui resulta: teremos de rendermo-nos à evidência de nos contentarmos com «reformas« no capitalismo, porque nenhum outro sistema económico e ideológico melhor alimentará a população mundial, mesmo que seja o principal instigador do dióxido de carbono na atmosfera do nosso exaurido planeta. A utopia socialista seria tão só isso: uma quimera sem viabilidade.
Foi a pensar nesse tipo de pessoas, que José Mário Branco recorreu ao exemplo do médico alemão Paul Ehrlich, que investiu denodados esforços na descoberta da cura da sífilis, terrível doença, que a tantos afetava na viragem do século XIX para o século XX. No seu laboratório ele ensaiou centenas de hipóteses de tratamento nunca desistindo após o fracasso de cada um deles. Até, finalmente, conseguir o seu objetivo à 914ª tentativa. Questionava o nunca por demais recordado autor do FMI: quantas vezes tentámos nós mudar de vida?
Mudar de Vida é também o título do filme em que ele recorda este exemplo, que deverá estar sempre na nossa mente quando um desses provocadores antissocialistas vier com a sua mentecapta ladainha. Porque, evocando o conhecido poema de Brecht, um mundo melhor será possível se os imprescindíveis não se deixarem tolher pelo desalento. Porque existem leis científicas, que ganham dimensão de axiomas e uma delas é não haver descanso para a luta de classes enquanto subsistirem as tão gritantes diferenças entre os que tudo têm e os que mal conseguem sobreviver!
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