segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

O embrulho é vistos, mas o interior cheira a mofo

 

É um dos mistérios insolúveis, que tenho por resolver: como se explica a atração de alguma juventude por essa coisa absurda chamada Iniciativa Liberal em que muitas das suas propostas anti-Estado não são sequer defendidas pelos governos cuja cartilha radica no capitalismo mais selvagem?

É certo que o partido em causa é, sobretudo, um produto de marketing e, nesse aspeto, pode constituir um bom caso de estudo para quem se dedica a essa disciplina. Os seus responsáveis olharam para os eleitores como um universo donde pretenderam atrair o máximo de clientes, escolheram o nicho onde sabiam ser mais provável o sucesso e edulcoraram-no com o tipo de mensagens capazes de surtirem o necessário efeito.

Não admira por isso que, a par da ideologia ultraprivatizadora de todas as funções do Estado, a conciliem com aquilo que as direitas tanto gostavam de designar como “temas fraturantes” por colidirem com os seus valores conservadores. Assim, sabendo os jovens maioritariamente de acordo com a Interrupção Voluntária da Gravidez, a morte assistida ou a igualdade de género, integrassem essas posições, habitualmente de esquerda, no seu programa político. Dentro da lógica de quererem passar gato por lebre, essas modernices da prima do Chicão, apenas destinaram-se a embrulhar, em vistoso papel, aquilo que dentro do pacote cheira a mofo. Porque, que sentido faz manter uma ideologia, que aposta no aumento das desigualdades sociais numa altura em que a iníqua distribuição de rendimentos é uma das principais causas para o acelerado crepúsculo do capitalismo?

Quando era adolescente só me senti próximo da Ação Socialista Portuguesa enquanto a reconheci como organização clandestina e antifascista porque, ocorrida a Revolução dos Cravos, passei uns anos a militar na extrema-esquerda. À distância essa opção funcionou como demonstrativa da minha ignorância e imaturidade. Mas, ao contrário, de outros, que foram parar ao extremo oposto, sempre me mantive ideologicamente socialista, e assim morrerei, por ser-me óbvia a justeza de, enquanto humanos, termos os mesmos direitos, deveres e, tendencialmente, rendimentos.

O que levará os jovens, que votaram na IL a abraçarem ideias tão ignorantes e imaturas quanto as por mim perfilhadas na sua idade, agora de sentido radicalmente oposto? Tanto mais que quase todos eles beneficiaram da escola e da saúde públicas em contraponto com as características e custos das privadas!

Do ponto de vista político o Partido Socialista tem de olhar para os próximos quatro anos e definir uma estratégia consistente de recuperação de tais jovens não se conformando com o apoio maioritário dos eleitores do meu grupo etário, por muito que tenda a manter-se como um dos mais relevantes na definição das tendências do voto. Razão para acreditar que, para além de políticas ativas de melhoria da qualidade de vida dos mais velhos, também não faltarão as que retirem o fator da aleatória precariedade na dos mais jovens. Demograficamente trata-se de um imperativo e o futuro do país carece do seu contributo.

1 comentário:

  1. É inconcebível que o TC tenha legalizado 2 partidos fascistas. Um que promove o fascismo social, o chega, e o outro, que promove o fascismo económico, a il. Tenho para mim que a divulgação e a promoção da ideologia liberal deveria ser proibida, e a sua divulgação punida com pena de prisão. Não se pode admitir a existência de verdadeiras task forces de lavagem cerebral pró-liberais e os seus braços armados como o pasquim observador.

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