segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

A necessidade de forjarmos mundos novos

 

Não têm sido muitos, mas amigos há que têm considerado a minha posição sobre a invasão da Ucrânia como sintomática de alinhamento ideológico com Putin o que só posso entender como um crasso disparate. Pensar racionalmente nas circunstâncias, que conduziram a esta situação, é-me mais natural do que alinhar nas considerações emotivas de quem pretenderia ver as tropas da NATO a agirem contra o tratado, que a norteia e entrarem em força no conflito. O que daria ensejo a Putin para fazer aquilo que ameaça: utilizar as armas nucleares no que seria a concretização dos vaticínios de Einstein quanto às características de uma futura quarta guerra mundial. Não esqueçamos que, ao contrário de outros ditadores, que se ficam pelas ameaças, Putin não tem pejo em ir além delas!

José Pedro Teixeira Fernandes, investigador da Universidade Nova de Lisboa, escreve no «Publico» de hoje que “o Ocidente falhou em termos morais e políticos. Falhou por não falar claro à Ucrânia e por não a ajudar a perceber a opções reais que tinha. Levou-a a afastar-se da neutralidade sem lhe dar uma alternativa exequível. Ignorou o interesse estratégico permanente da Rússia sem proteger efetivamente a Ucrânia. Não obstante a invasão da Rússia ser totalmente injustificada e merecer uma condenação inequívoca, há responsabilidades que não se podem iludir agora.” E outra coisa não tenho aqui defendido até por outra falha subsistir neste mesmo Ocidente: não dar ao mundo a alternativa, que este tempo exigiria quanto à mesma visão darwinista, que Putin tem da luta geopolítica, avançando determinadamente para um futuro pós-capitalista e balizado nos valores inscritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. O que justifica o parecer de Tom McTague, citado pelo mesmo jornal relativamente a um artigo seu na revista «The Atlantic»: “compreender Putin como fenómeno moderno é de fundamental importância se queremos evitar o erro categórico de assumir que o perigo que ele representa é o de voltar atrás no tempo e não de o acelerar, recriando mundos antigos em vez de forjar novos”.

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