terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Atendamos às frustrações dos derrotados

 

1. Este é primeiro dia do resto da vida de Marcelo como presidente. Vamos vê-lo a receber os partidos para decidir quem irá convidar para a formação do governo, mas trata-se de mero pró-forma, porque sabemo-lo impossibilitado de agir de acordo com outro pressuposto, que não o dos resultados eleitorais de domingo.

Se pensava chegar a Belém para contrariar a hipótese de uma duradoura governação socialista viu definitivamente cerceada a intenção: restar-lhe-á o papel de corta-fitas até ao fim do mandato, desmarcando-lhe o encontro com os livros de História onde ambicionara guindar-se ao nível de um Mário Soares. A frustração, que por ali andará!

2. David Justino fez a previsão de dois meses para conseguir a substituição da atual direção do PSD por outra, que lhe suceda.

Compreende-se a pressa: depois de tão calamitosa derrota, Rio e os seus mais próximos, quererão seguir para as suas vidas, entregando a outros o fardo de parecerem mais do que mortos-vivos na Assembleia da República onde pouco mais terão para fazer do que uns discursos de circunstância.

A curiosidade será saber quem se atreverá a chegar-se à frente, porque dificilmente conseguirá sobreviver ao deserto dos próximos quatro anos. Moedas já se pôs de fora e assim o decidirão os que contra Rio concorreram há uns meses. Apostaria por isso em alguém da segunda linha, atirado pelas suas tendências para servir de lebre a quem, daqui a uns três anos, se chegará à frente.

3. Não deixa de ser curiosa a angústia existencial de alguns dos promotores das sondagens, que agora reagem com estupefação à sua influência na vitória socialista. Singular esse mea culpa, porque nunca o vimos tão elucidativamente declarado, quando elas sempre aproveitaram aos partidos das direitas.

Para alguns dos que agora ponderam na necessidade de mudar as metodologias a questão resumir-se-á a isto: como poderão voltar a ajudar quem sempre tinham inconfessadamente apoiado?

4. Uma nota final para o artigo demolidor de Boaventura de Sousa Santos no «Público» de hoje: na qualidade de votante no Bloco desde a sua formação, aconselha Catarina Martins a demitir-se. Porque considera inaceitáveis os tiros nos pés por ela dados na votação do Orçamento e como o tentou justificar durante a campanha.

Muito provavelmente o texto do sociólogo de Coimbra poderá ser subscrito por muitos dos que tinham dado 19 deputados ao partido e agora o repudiaram o bastante para só o deixarem com cinco. 

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