Bem pode Manuel Carvalho, diretor do «Público», queixar-se da Rússia de Putin ter deixado de ser confiável à luz dos tratados e da boa vontade da cooperação internacional, que ele poderá sempre alegar o mesmo a respeito de um ocidente que aproveitou a implosão da União Soviética para levar a União Europeia, mas sobretudo a NATO até às suas fronteiras, fazendo toda a diferença ter mísseis norte-americanos a meia dúzia de quilómetros delas, quando, em contraponto, a Casa Branca reagiu como se sabe à hipótese contrária de havê-los na Cuba de Fidel Castro.
Por muito que antipatizemos com Putin nada ganhamos em replicar o patético discurso de José Milhazes na SIC que, perante os desesperados apelos de Volodomir Zelenski e a conformada reação europeia de acolher quantos refugiados provierem da derrotada Ucrânia, já imagina guerrilhas ativas nas florestas a combaterem o exército invasor.
Há que olhar racionalmente para o que está em causa e não ver a decisão de Putin como prova manifesta da sua loucura. É-a da sua perspetiva ditatorial de exercer o poder, mas em que altura da sua História, a Rússia esteve governada numa lógica democrática? E não existe apenas narrativa desviada da realidade, quando ele invoca a existência do batalhão Azov como prova de significativa participação neonazi na definição das políticas ucranianas nos últimos anos. Aliás uma das enviadas da SIC demonstrou-o bem quando mostrou uma reportagem em que um desses militantes dava treino militar a uns assustados cidadãos, ademais com armas de fazer de conta.
O que acontecerá a curto prazo pode-se imaginar: voltaremos ao tempo da Guerra Fria com blocos estratificados de uns e de outros a usarem a propaganda para denegrirem o campo inimigo. A energia será mais cara e, com ela o custo de vida, que deveremos suportar até por nos devermos resignar a orçamentos mais altos na rubrica das despesas militares. Por isso teremos mais uma culpa a imputar ao Bloco e ao PCP: terem inviabilizado um orçamento, que já poderia estar implementado e continha avanços progressistas de imediato postos em causa com os desafios a curto prazo do aumento dos juros da dívida. E, esperto como se tem mostrado, Putin não repetirá os erros de Gorbatchev: teremos de olhá-lo com o receio de quem o sabe capaz de recorrer às armas nucleares se vir nelas argumento bastante para prosseguir com os seus planos.
Não é cenário que nos agrade? Pois não é! Mas lá dizia Guterres, que assim é a vida, não sendo a primeira vez que voltaremos a um mundo diferente do que nos prometiam em 1991: que todos seriam belos e gentis! Porque até a História teria chegado ao fim...
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