sábado, 26 de fevereiro de 2022

Contos velhos, rumos novos?

 

A guerra na Ucrânia motiva tão emotivas reações, que justifica abordagem alternativa, que não se prenda com versões maniqueístas de tudo ser branco ou preto, e olhe racionalmente para o mundo vindouro, aquele de que nos não sabíamos tão próximos.

Na «Visão» Rui Tavares Guedes volta a trazer à colação o exemplo literário de Stefan Zweig, quando tanto glosou a tranquilidade da Viena imperial em vésperas de se ver sacudida pelos canhões da Primeira Guerra Mundial. Comportamento depois replicado em vésperas do conflito generalizado seguinte, que encontrou quase toda a Europa não nazifascista a usufruir as delícias de um verão particularmente bonançoso. E, de facto, existe essa acostumada ilusão de se viver perpetuamente em paz, indiferentes ao facto de continuarem a funcionar em pleno as fábricas de materiais para as anunciadas guerras futuras.

Esperam-nos anos de inquietação por muito que, agora, a União Europeia se una em torno da ideia de não depender dos Estados Unidos para assegurar a sua própria defesa. Até porque não sabemos se Trump não voltará a suceder a Joe Biden...

Tempos difíceis se adivinham para quem, na Rússia e na sua esfera de influência, quiser ostentar veleidades antioligárquicas: a exemplo do sucedido com a Bielorrússia ou o Cazaquistão, lá estarão os tanques a reencaminhar as ovelhas rebeldes ao redil. E nada impedirá a China de replicar este exemplo em Taiwan por muito que o Pentágono direcione mais porta-aviões e submarinos para as suas imediações.

Porque, nem num, nem noutro caso, estamos a cuidar de outros modelos, que não sejam os de um capitalismo entrincheirado nas instituições do Estado, é altura da União Europeia reinventar-se, libertando-se dos Orbans e dos Kaczynskis, que, amando-o ou detestando-o, lhe replicam as intenções autoritárias, e se afirme como espaço de liberdade e de mais igualitária distribuição de rendimentos como forma de servir de farol para os povos, que queiram libertar-se dos respetivos ditadores. Porque, até agora, e com Angela Merkel como paradigmático exemplo, o espaço político comunitário olhou para a economia dentro da lógica do mero business as usual. Sem cuidar particularmente dos valores, que tanto proclama serem os seus...

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