Enquanto o país continua adiado à conta dos votos da emigração há quem se dedique a reanalisar as razões porque os portugueses deram a maioria absoluta ao Partido Socialista. E é difícil sair do tipo de leitura óbvia que faz São José Almeida no «Público» de hoje: “o eleitorado votou no partido e elegeu o líder que sente que, apesar de todas as contrariedades e disrupções dos últimos dois anos, o protegeu.”
Uma síntese que reitera a sensatez de uma população que, só em estratos minoritários, se deixou tentar por dúbios encantos propostos por xenófobos ou ultraliberais, e entendeu punir quem agiu com absurda falta de inteligência perante o cenário em que se projetaria com o chumbo do orçamento para o ano em curso.
Pacheco Pereira, cuja erudição nem sempre coincide com uma interpretação acertada dos acontecimentos, incumbe-se de fazer futurologia em relação ao partido a que ainda o julgamos associado. Por muito tempo? Provavelmente não, porque entende previsível o que nele se irá passar: uma viragem inequívoca à direita em busca dos “dourados tempos” de Cavaco Silva ou de Passos Coelho, dando ao partido do governo o ensejo para ocupar o espaço sociológico ao centro, que é tido como aquele em que se ganham eleições.
E dos textos hoje publicados ainda vale a pena olhar para o da autoria de Jorge Almeida Fernandes, que olha para Putin e sabe-o sem qualquer temor relativamente à Ucrânia ou à NATO. Pelo contrário a crise atual permitiu-lhe retomar papel de protagonista na cena internacional e nela vincar a justeza do seu velho sonho imperial. Conta para isso com a imprudência de Joe Biden, que tem atuado como um incendiário, e com a influência reduzida que líderes europeus vão demonstrando como o demonstram as elucidativas imagens de dialogarem com Putin a uma enormíssima distância.
Uma vez mais só posso lamentar que a organização militar, que constituía o outro lado da moeda representado pelo Pacto de Varsóvia, não tenha desaparecido com a implosão da União Soviética e a União Europeia tenha-se apressado a acolher no seu seio quem, como se constata com a Polónia e a Hungria, não cumpre os critérios de respeito pelas regras democráticas, que deveriam cumprir.
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