quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Uma espécie de médico e monstro

 

Andam as televisões ocupadas com as variações dos discursos de António Costa, ora pedindo a maioria absoluta, ora prometendo o diálogo com quase todas as forças políticas no rescaldo eleitoral, quando ostensivamente ignoram o fenómeno em curso com Rui Rio.

Singularmente vem de um habitual detrator do primeiro-ministro - o diretor do «Público» Manuel Carvalho - o toque a rebate sobre quem é verdadeiramente o seu principal opositor: “se Rui Rio tem um mérito, é o de não esconder o que é. O Rui Rio sorridente e com gatinhos acabará na primeira contrariedade.

Com ele no governo, o “rigor” vai apertar a liberdade de crítica e de expressão, vai colidir com a separação de poderes, vai, enfim, tornar a vida pública do país mais tensa e áspera.

É legítimo que muitos eleitores defendam essa via — até porque Rio, sendo um líder duro e avesso à contestação, nem questiona os fundamentos da democracia, nem do Estado de direito. Mas é igualmente bom que o avaliem à luz da sua história na política, pelo que de facto é, e não apenas pelos sorrisos, pela bonomia ou pela mansidão que tem exibido durante estas semanas.”

Rui Rio tem contra si todos os tiques ditatoriais, que demonstrou quando era presidente da câmara do Porto, não sendo tão desajustado quanto muitos fizeram crer o epíteto com que Rosa Mota o brindou. Porque sabemos bem como ele perseguiu jornalistas, ostracizou os agentes culturais e premiou quem merecia as suas ambíguas simpatias.

Daí que seja evidente a mentira, que se esconde por trás desse fácies sorridente, até aparentemente afável, com que se mostrou no programa de Ricardo Araújo Pereira. Essa é a versão «Doutor Jekyll» com que pretende iludir os eleitores até domingo. Na semana a seguir, perca ou não as eleições - para nosso bem esperemos que aconteça a primeira daquelas hipóteses! - será a versão Hyde, que voltará a tomar conta da sua pessoa. E já sabemos como tem afinidades eletivas com o Chega cujo apoio não menosprezaria acaso se visse em condições de com ele repetir a caldeirada dos Açores.

Depois de terem sentido a tentação de o apoiarem, alguns jornalistas estão a dar mostras de saberem o tipo de veneno, que ingerirão se ele sair vencedor. E até o insuspeito Bernardo Ferrão já não se coíbe de lembrar o monstruoso passado de uma personalidade definitivamente oposta à do médico afável, que quer tratar a «saúde» dos portugueses.

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