sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Bestas imundas d’aquém e além-mar

 

1. A besta imunda foi igual a ela própria, mas com António Costa não passou. Por muito que tenha recorrido a todo o arsenal de demagogia e de mentiras apenas deu suplementos de alma a quem já lhe conheciam e apreciavam os argumentos. Mas que se pode fazer a quem representa o que de pior tem a sociedade portuguesa em valores e modelos de aquisição e interpretação de conhecimentos, que são desmentidos pela realidade, mas à qual se querem alheios?

Apenas ser firme na veemência com que os possamos denunciar e amesquinhar!

2. Quase sempre olho para os textos de Susana Peralta com desconfiança por motivos, que já me valeram acusações de lhe fazer ataques ad hominem. Mas na crónica de hoje dou-lhe inteira razão, quando escreve: “Os verdadeiros subsidiodependentes são os políticos que precisam das mentiras sobre o RSI para sacarem soundbytes preguiçosos. André Ventura quer melhorar a economia retirando apoios a 200 mil adultos pouco qualificados, que dificilmente encontram empregos espetacularmente produtivos, lançando 100 mil crianças na pobreza e hipotecando a sua contribuição para a nossa economia daqui a uns anos. Isto, para poupar menos de 0,4% da despesa pública. Se fosse assim tão fácil, teríamos o PIB da Suécia.”

3. Há alturas em que a experiência política deverá levar os políticos sensatos a agirem de acordo com as lições ensinadas no filme «Kagemusha» de Akira Kurosawa: assediados pelas oposições, sobreviverão enquanto não se mexerem porque, fazendo-o, ficam expostos a fogos de todos os lados, que poderão revelar-se fatais.

Vem isto a propósito do burburinho a respeito do que fazer com os confinados no dia 30 de janeiro, quando estiverem condicionados no seu legítimo direito em votarem. Há propostas para todos os gostos, mas contradizem-se e muitas desrespeitam a legislação vigente. Mas se o governo decidir-se por uma delas todas as oposições lhe cairão em cima. Porque neste período pré-eleitoral é o vale tudo que prevalece e não são apenas os demagogos do costume quem ficam sozinhos no seu vociferar, porque logo se lhe juntam em coro os que costumam condená-los, mas procuram reter uns quantos votinhos, que temem fazer-lhes falta para se aproximarem dos objetivos.

4. Inquietante a entrevista dada ao «Público» por Sarah Kendzior, uma antropóloga norte-americana, que já fizera figura de Cassandra ao prever a vitória de Donald Trump, quando a hipótese era dada quase como risível. Porque, suportada nas mesmas ferramentas de análise, ela considera que o pior pode ainda estar por vir e as eleições de novembro devolverão o Senado e a Câmara dos Representantes aos trumpistas. Porque os democratas, de partido e de vocação, andam demasiado incompetentes para travarem o tipo de estratégias seguidas pela extrema-direita de além-Atlântico.

1 comentário:

  1. Fui eu, Jorge Rocha, quem o acusou de tal e mantenho. Parece-me que Peralta pensa pela sua própria cabeça e nem sempre pensa como o PS (a mais das vezes discorda), mas isso não é razão para a ver como qualquer espécie de voz do dono.

    As melhores críticas, mormente as mais construtivas, vêm do nosso próprio lado da barricada...

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