Rui Rio tem razão: lá porque vai perder as eleições, (quase) ninguém morrerá por isso. E o Zé Albino poderá contar com os mimos do dono com uma frequência que lhe poupe o ar deprimido. Mas segunda-feira significa um novo ciclo na política portuguesa, que não terá similitudes com os seis anos mais recentes. Terá falhado a grande coligação entre patrões, televisões, ordens profissionais e alguns sindicatos para dar a ideia de ter caído um governo «desgastado». Mas o próximo terá de estar melhor blindado contra este tipo de coligações negativas, mesmo alicerçado nos mesmos parceiros que começarão por lamber as feridas de verem os grupos parlamentares reduzidos a metade ou ainda a menos do que isso. E essa será a grande questão que as direções do Bloco e do PCP terão de ponderar: valerá a pena manter tensa a corda sempre pronta a rebentar - para gáudio das direitas, que não abandonarão as múltiplas estratégias para demolirem o castelo de cartas adversário! - ou compreenderão que a lógica do quanto pior melhor acabou por virar o feitiço contra o feiticeiro?
As esquerdas têm de aproveitar os próximos anos para enfrentarem com eficiência os custos do aumento das taxas de juro, aproveitando os milhões do PRR para dinamizarem a economia e melhorarem a qualidade de vida dos portugueses, mormente dos que têm-se deixado iludir pelos cantos de sereia das direitas sem compreenderem como isso significa darem tiros nos pés.
Recuperar o eleitorado e orientá-lo mais firmemente para um projeto progressista: a tarefa que as esquerdas devem dividir entre si, cabendo ao Bloco e ao Livre a fixação dos mais jovens, ao PC a dos mais velhos e ao Partido Socialista o dessa indefinível classe média, que só esquecerá as falácias liberais se as perspetivas do ascensor social voltarem a ser-lhe mais risonhas. É tarefa complicada e difícil, que não se compadecerá com os acordos de cavalheiros sugeridos por Augusto Santos Silva, ou com os sonhos húmidos de Sérgio Sousa Pinto, mas se houver lucidez em quem manda nos partidos das esquerdas talvez possamos regozijarmo-nos com as frustrações de quem, nas direitas, terá olhado para a praia tão perto e correntes fortíssimas dela as terão apartado. Restando-lhes então comparecer nas missas pela alma desse defunto CDS, que poderá não sobreviver a esta provação, acabando por ser a única vítima a desmentir o tal comentário de Rui Rio sobre a benignidade da sua derrota.
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