quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

“Brilhantismos” pouco recomendáveis

 

Embora há muito o tente compreender ainda não tive provas inequívocas dos motivos, que levam as publicações da Cofina a multiplicarem-se em transcrições das conversas gravadas a mando do ministério público sobre tudo quanto tem acontecido em torno do antigo Grupo Espírito Santo e do Novo Banco, que lhe serviu de residual sucedâneo. Mero interesse comercial para aumentar tiragens? É possível, mas não coincide a perspetiva ideológica de quem publica esses materiais com a lógica de capitalismo selvagem neles evidente? Ou contradições entre interesses capitalistas, que beneficiam da ida ao fundo de um concorrente para melhor consolidarem os seus rendimentos, estão por trás de tais revelações?

A verdade é que, a ser esta última a explicação, podemos sempre beneficiar da lógica de zangarem-se as comadres para que saibamos as verdades. É assim que a conversa entre o antigo braço direito de António Ramalho e quem lhe sucedeu nessa condição - o mesmo Rui Fontes, que dirigira as operações de capital de risco do BES, lesivas dos interesses de quem nelas perdeu boa parte das poupanças, e  agora administrador no Novo Banco! - revela-se particularmente interessante por aquele considerar um saque ao fundo, e operação pouco ética, a imputação ao mecanismo de capital contingente dos prejuízos com a venda da sucursal de Espanha em 2021.

Está em causa a estratégia da Lone Star em esgotar em apenas três anos a verba exigida aos contribuintes portugueses para lhe servir de almofada financeira na viabilização do Novo Banco e que já custou mais de 7,9 mil milhões de euros aos nossos bolsos.

Não é que as práticas da Lone Star surpreendam: quando Carlos Costa, enquanto governador do Banco de Portugal, e Sérgio Monteiro, ex-secretário de Estado de Passos Coelho, escolheram-na para tomar conta do Novo Banco, eram conhecidas as suas práticas de abutre sobre as presas, que caíam na sua alçada. Mas as revelações colaterais trazidas a lume sobre os repetidos comportamentos da equipa de gestão liderada por António Ramalho no relacionamento com Luís Filipe Vieira abre um aparente vasto leque de possibilidades para a confrontar com a justiça a começar pela forma como o CEO revela o desprezo pelos deputados da Comissão Parlamentar e a forma de os ludibriar. Que isso seja matéria bastante para justificar a imediata retirada das suas condições deontológicas para manter-se no cargo é evidente e esperemos que o BCE o confirme. Mas, numa altura em que outro “brilhante figurão” das finanças lusas - Horta Osório - é corrido do Crédit Suisse por se ter julgado acima das obrigações a todos exigíveis em tempo de pandemia, conclui-se existir uma reiterada postura dos administradores dos bancos portugueses em considerarem-se elite com código de valores à parte e que a ninguém deve prestar contas. 

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