quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Pandemia, discursos liberais e atualização do que emite o PCP

 

1. Convenhamos que nunca senti o SARS-CoV-2 tão próximo como agora, quando pessoas próximas de nós vêm sendo por ele afetadas. Ao contrário do que Marcelo proclamou com a sua conhecida “sapiência científica”, a fase endémica ainda está longe de se afirmar, porque é com uma pandemia que continuamos a lidar. Mas, para além de já andarmos acima da média da União Europeia quanto à população com a dose de reforço - e, novamente, a subir na respetiva classificação! - consolemo-nos com o facto de termos uma variante Ómicron menos perigosa, que as anteriores por afetar preferencialmente a garganta e a traqueia em detrimento dos pulmões.

2. Curiosamente tenho lido com maior atenção as crónicas de Maria João Marques no «Público» apesar de a saber paladina do pensamento liberal, algo de que me sinto tão oposto quanto o pode ser um marxista em relação às soluções presentes para recauchutar o capitalismo. Mas como ela faz uma aferição muito sagaz da Iniciativa Liberal vale a pena pegar-lhe na palavra para melhor enquadrar o partido de João Cotrim de Figueiredo no que realmente defende: “O mais caricatural na IL, no entanto, é um partido alegadamente liberal ter, como bandeiras políticas, propostas para a despesa pública: pôr os contribuintes a pagar a educação e a saúde privada dos que assim quiserem. Para a IL, o Estado que faça o favor de ficar ausente em várias áreas importantes. Porém, esse mesmo Estado deve pagar os colégios e as consultas médicas privadas de quem não tem dinheiro para tal, mas não gosta da escola pública nem do SNS. Mais um bocadinho e inventam um voucher-comida para termos acesso uma vez por ano a um restaurante com estrela Michelin — a expensas dos contribuintes, que agora só lá vai quem pode pagar. E a alimentação não fica atrás da saúde e educação.”

3. Jerónimo sai temporariamente de cena e volta a colocar-se o que, há muito, é óbvio para muitos militantes comunistas: se o PCP quer ter algum futuro sem definhar até à grupuscular dimensão dos seus irmãos europeus bem precisa de mudar de liderança e de tipo de mensagem. Rejuvenescendo-a, arejando-a, libertando-a de uma sociedade ainda maioritariamente proletária para assumir outra mais condizente com o tipo de meios de produção detidos pelo capital. E, enquanto tal, usados para salvaguardar as desigualdades entre as elites endinheiradas e todos os demais.  Havendo males que vêm por bem - e decerto quase todos os portugueses desejam ver Jerónimo recuperado da sua cirurgia! - talvez assim se apresse esse encontro do PCP com o atual ciclo político. Quiçá olhando para uma Geringonça 2.0 com uma sagacidade que recentemente parece ter perdido. 

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