domingo, 30 de outubro de 2011

Uma mudança geopolítica em curso

Acabamos a semana na ressaca do acordo conseguido na zona euro para a  sobrevivência da moeda única. Os mercados e as bolsas reagiram, entretanto, com alguma euforia.  Mas a maioria dos comentadores alerta para o facto de estarmos longe do fim da linha desta crise do euro. Diz Isabel Arriaga e Cunha no «Público»: Este tipo de reacção é no entanto recorrente sempre que a zona euro dá sinais de querer atacar a crise da dívida, embora por regra seja sol de pouca dura..
Mas Teresa de Sousa aprofunda mais este contexto político no mesmo jornal, começando por demonstrar a «sagacidade» dos eurodeputados perante uma China considerada essencial para o reforço do Fundo Europeu de Estabilização Financeira: ontem, o Parlamento Europeu resolveu manifestar publicamente a sua «profunda preocupação» com a falta de liberdade no Tibete e apelar às autoridades chinesas «para que respeitem os direitos dos tibetanos.
A razão para que a Europa veja na China uma solução potencial para a sua crise é fácil de explicar: A China é detentora de reservas em divisas de cerca de 3200 mil milhões de dólares. Detém qualquer coisa como 500 mil milhões de euros em dívida soberana europeia. Nada de mais tentador do que «tentá-la» a ajudar a financiar o fundo de resgate europeu, via FMI.
No «Le Monde» Michel Sapin considera que  a Europa colocou-se numa posição de fraqueza perante um país com o qual só se pode negociar numa posição de força. Ideia subscrita por Daniel Cohn Bendit, que acrescenta: Escolhemos colocar-nos nas mãos dos países emergentes (…) em vez de emitir eurobonds.
Na conclusão do seu artigo, Teresa de Sousa constata a reconfiguração acelerada do poder mundial, com a riqueza a mover-se de Ocidente para Oriente. Citando Joschka Fischer: A fraqueza americana e a crescente dependência das exportações europeias  (sobretudo alemãs) do mercado chinês podem alimentar uma nova e promissora perspectiva euroasiática, enquanto a relação transatlântica declina.
Para a autora do texto estamos perante uma hábil estratégia das autoridades de Pequim: A Europa ainda tem um grande poder económico. O problema é que não consegue pensar-se estrategicamente. E a China marca pontos nesta mudança geopolítica colossal…
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Portugal vai pagar 655 milhões de euros em comissões pelos empréstimos concedidos pela troika até 2014, revelou ontem o ministro das Finanças Vítor Gaspar, no início da discussão da segunda proposta de orçamento rectificativo para este ano. (…) O valor das comissões a pagar este ano corresponde a 10% do chamado «desvio colossal».

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