Um destes dias o «Diário Económico» dava uma notícia, que não tem o condão de surpreender, porque, desde há muito se percebeu a obrigatoriedade do país comprar o TGV se quiser contar com o apoio dos seus parceiros europeus: afinal, Portugal não vai ter uma, mas duas linhas de velocidade alta ou de alta prestação. Portugal terá de garantir que a viagem Lisboa-Madrid se fará, no máximo, em 2h30, para que o comboio seja competitivo com o avião. Em suma, o Governo terá agora de arranjar uma boa desculpa para justificar a construção das duas linhas que os técnicos sempre disseram ser necessárias.
Afinal, era melhor que tivessem estudado o problema antes de se pronunciarem contra o projecto. Pelo menos, evitavam ziguezagues políticos e ter de desmentir amanhã o que afirmaram ontem com grande veemência.
Mas os desmentidos entre o que o PSD de Passos Coelho se propunha fazer na oposição e ao que corresponde a realidade na governação, não se queda por aí. Um texto de Bruno Proença recorda bem como Passos Coelho e os seus apaniguados fustigaram o Governo Sócrates por nada fazerem para a redução dos chamados consumos intermédios. Mais ou menos há um ano, Passos Coelho explicava a receita de resolução de tal problema: Antes de qualquer outra medida, deviam-se atacar as gorduras do Estado. Nos ministérios, nas empresas públicas, nos hospitais, nas escolas viviam todos com enormes desperdícios da água, da luz, de papel e todos os outros materiais. Resolvendo isto, estava meio caminho andado para consolidar as contas públicas. Na altura, Carlos Moedas, hoje secretário de Estado responsável pelo acompanhamento do memorando com a ‘troika', citava estudos que falavam de cortes de milhões e mais milhões nos célebres "consumos intermédios". E não foi o único a defender essa teoria. O actual ministro da Economia, ainda na pele de professor universitário, também falou abundantemente sobre a mesma teoria no seu último livro - "Portugal na Hora da Verdade".
Pois bem, no primeiro Orçamento do Estado da responsabilidade deste Governo, o que é que aconteceu aos consumos intermédios? Nada. Literalmente tudo na mesma.
Será que alguém se esqueceu dos cortes nos consumos intermédios? Num ano, passou de prioridade à irrelevância.
Há óptimas ideias no papel que morrem aí.
Não quer dizer existam condições para uma revolução política. Como diz José Carlos Barradas, impera por agora a desorientação e angústia: Hoje em dia, na Grécia insolvente ou num Portugal recessivo abundam desorientação e angústia e a falta de tacto político, de mero bom senso, que exaspera e confrange, em nada contribui para dissipar um justificado cepticismo quanto ao futuro.
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