Poucos são os colunistas do «Público», que escapam à matriz aí imposta pelo antigo director, José Manuel Fernandes, e que os seus actuais responsáveis ainda não souberam ou quiseram alterar. Seja porque o seu verdadeiro patrão, Belmiro de Azevedo, não vê com bons olhos outras opiniões, que não as dos defensores do ultraliberalismo mais selvagem, seja porque escasseiem ainda os comentadores orientados para uma lógica delas distinta, devo reconhecer serem raros os textos de opinião aí publicados e que mereçam leitura atenta da primeira à última linha.
Não custa reconhecer quão raros são textos como o de Domingos Ferreira, na edição de ontem, em que se desmistificam algumas das principais teses dos defensores do caminho do actual Governo para modificar o rumo dos portugueses.
Por isso mesmo vale a pena ficarmos com este pequeno trecho: a austeridade é uma política ideológica mascarada de política económica. Ela assenta no mito, inteiramente falso, de que a despesa pública é um desperdício e uma perda de riqueza sem retorno e que não conduz a qualquer recuperação económica. Todavia, o mundo é muito mais complicado e os factos, indesmentíveis são os seguintes: os países social e economicamente mais equilibrados, e que mais rapidamente saíram das respectivas crises, foram aqueles onde houve um forte estímulo económico público, dado que nas presentes circunstâncias mais ninguém o fará e são aqueles onde há mais despesa em políticas sociais e maior equidade na repartição da riqueza.
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