quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Um modelo de Democracia com muito pouco de exemplar

 

A lição já poderia ter sido aprendida em 1933, quando da História recolhemos o exemplo da chegada dos nazis ao poder através de eleições. Ou em tantas ocasiões posteriores, quando se viu gente sem qualidades à luz dos valores democráticos, chegar ao poder nos respetivos países. Recentemente não faltam exemplos disso estar a verificar-se com inquietante progressão - nos EUA de Trump, na Turquia de Erdogan, na Hungria de Orban, na Rússia de Putin e até na Tunísia tal qual se vem atualmente afirmando a ditadura de Kaïs Saïed.

Daí que já teria sido tempo de pôr em causa este tipo de democracia - em tempos crismada de «burguesa» -, que enaltece as liberdades fundamentais, mas deixa as opiniões do espaço público virem filtradas pelo total domínio da imprensa por quem tem interesse em manter as ilusões quanto ao mercado livre equivaler a prosperidade, quando crescem as desigualdades sociais e a avaria irreparável do tão glosado elevador social.

Nesse sentido pode-se questionar onde existe mais democracia - nos Estados Unidos onde a miséria grassa numa percentagem crescente da população, que não tem direito ao ensino, à habitação, à saúde, sequer à sindicalização para defender os seus interesses, ou no modelo capitalista de Xi Jingping onde a melhoria de qualidade de vida é inegável e não é tão chocante a diferença de rendimentos entre os muito ricos e o resto da população.

Há corrupção na China dita comunista - que o não é de facto! - decerto que sim. Mas que dizer da importância dos lobbies na sociedade norte-americana, que influenciam transversalmente todas as principais áreas de atividade e garantem rendas maximizadas para os mesmos do costume?

Vem isto a propósito da provocação de Nancy Pelosi, que muitos se apressaram a considerar muito corajosa, quando replica aquilo que aconteceu décadas a fio com a intromissão ocidental numa parte da Europa, onde acabaria por esgotar-se a paciência dos russos com o evidente cerco, que se lhes estava a fazer.  Mas, a não ser o complexo industrial-militar que garante um fluxo prometedor de encomendas vindas de Taipé, mesmo que garantidas pelo fluxo de dólares para lá transferido pela Casa Branca, não se vislumbra a quem aproveita esta bravata. Porque os próprios taiwaneses sabem que a geografia é tramada e o seu abocanhar pelo regime de Pequim é uma questão de tempo. O que foi compreendido há muito tempo pelos sucessores de Chang Kai-chek, que por isso se viram arredados do poder pelas réplicas locais de Zelenski, com a demagogia de um nacionalismo baseado na exigência de terem costas quentes do tio Sam para evitarem o inevitável. E assim se vai tornando cada vez mais perigoso um planeta, que vive na eminência de conflitos potencialmente apocalíticos. 

Sem comentários:

Enviar um comentário