segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Os disparates em torno de relíquias macabras

 

Nesta estação tonta (silly season) está a tornar-se entediante a repetição das estafadas expressões utilizadas pelos repórteres televisivos sobre os fogos, que os incendiários andam a espalhar a norte do Sado, aproveitando os maus humores da meteorologia e a extrema secura dos terrenos e florestas. Lá se voltam a repetir os “cenários dantescos”, os “teatros das operações” e a habitual zanga dos que gostariam de ter meia-dúzia de bombeiros a servirem-lhes de guarda-costas e um Canadair  a sobrevoá-los continuamente, para asseverarem com ridícula compostura que  “faltam meios e organização”  no combate aos incêndios.

Como alternativa as televisões optaram pelo recurso ao macabro: primeiro com o cadáver de Zédu, que alimentou a ridícula telenovela protagonizada pelas inenarráveis filhas mais velhas do defunto e tendo por motivo o seu destino final. Depois foi a exposição do frasco com o coração de D. Pedro IV, que Rui Moreira decidiu emprestar prestimosamente a Jair Bolsonaro para dele se utilizar na campanha presidencial contra Lula da Silva. Mas, antes de pô-lo numa caixa e despachá-lo para o Brasil o edil do Porto decidiu expor o despojo real e foram absurdos os testemunhos dos que se enfileiraram para o irem ver.

Caramba! Aquilo é um pequeno pedaço de carne morta conservada em formol, ou outro líquido do género, e em nada se distingue do de qualquer outra macabra relíquia, que se quisesse expor para gáudio da bacoquice dos interessados.

Eu sei de quem se desloque à exposição de cadáveres, que regularmente vai passando pelas várias cidades europeias e os apresenta esteticamente embelezados, mas não deixa de ilustrar uma atração pela morte, que nos deveria fazer refletir sobre o velho dito grego de haver gente de tudo capaz. Mas que as notícias em torno dos despojos de Zédu  ou de D. Pedro são disparatadamente grotescas, lá isso são! 

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