1. Um dos mistérios das últimas semanas teve a ver com a reação de muitos «democratas» - estou-me a lembrar por exemplo de Pacheco Pereira! - à reação de Augusto Santos Silva sobre as diatribes xenófobas de André Ventura na Assembleia da República.
O caso subiu até Belém, mas Marcelo, raposa velha, nem quis saber do que se passara, limitando-se a ouvir o ofensor aos valores constitucionais sem lhe dar o pretendido colinho. Por seu lado a segunda figura do Estado voltou agora a reiterar aquilo que continuará a fazer: tão-só ouça algo, que viole tão brutalmente a lei fundamental, logo repetirá pronta desqualificação das palavras torpes do deputado fascista.
Preparem-se os hipócritas para continuarem a condenar Augusto Santos Silva, que assim se denunciarão como idiotas úteis de quem nunca deveriam querer acolitar como cúmplices.
2. Os tempos não correm de feição a Zelensky que, com poucos dias de intervalo, vê insuspeitas entidades internacionais revelarem aquilo que mais desejaria ocultar. Começou com a Amnistia Internacional a denunciar o que se adivinhava facilmente - a adoção de civis como escudos humanos para atrás deles esconder militares e armamento julgando assim que os invasores os poupariam com a sua artilharia. Embora pressionando o suficiente para levar à demissão da responsável da AI em Kiev, Zelensky não a levou a desmentir o conteúdo do que antes denunciara.
Foi agora o FMI a publicar relatório onde se constata outro facto indesmentível: enquanto a economia russa consegue demonstrar resiliência às sanções por ele exigidas à comunidade internacional e às quais se prestaram os responsáveis da União Europeia, elas incidirem por ricochete nas populações dos 27, que enfrentam significativa inflação, a ameaça de não terem recursos energéticos suficientes para enfrentarem o inverno e uma grave recessão. Desesperado com a previsível derrota, Zelensky exige ainda mais não enjeitando cair nas mais caricatas contradições: depois de ter exigido que os países europeus não comprassem mais gás ou petróleo à Rússia, logo classificou de terrorismo a decisão de Putin em fechar-lhes a torneira.
E há enfim a publicação na Alemanha do trabalho de investigação de dois reputados jornalistas sobre a sua personalidade, e ao qual os principais títulos da imprensa estão a dar grande destaque, revelando-o como possuidor de contas em paraísos fiscais, ligação privilegiada ao oligarca Igor Kolomoisky e comportamentos tão ditatoriais quanto as do comparsa Putin com quem as afinidades eletivas serão afinal muitas mais do que sugerem as suas palavras.
Preocupantes também são os sinais vindos de além-Atlântico onde, de acordo com o insuspeito Thomas Friedman, cresce o desagrado da Administração Biden com a forma como está a gerir uma guerra, que os serviços de segurança revelam estar a evoluir desfavoravelmente.
Não sendo nenhuma das organizações, títulos da imprensa ou jornalistas em causa supostos simpatizantes de Vladimir Putin adivinha-se um crepúsculo sombrio para o autoproclamado servidor do povo ucraniano. Para nosso invernoso descontentamento, que vemos tantas pessoas inocentes a serem mortas, estropiadas ou a perderem todos os seus bens por conta dos exclusivos interesses dos dois senhores da guerra.
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