sexta-feira, 29 de abril de 2022

Se a psicologia infantil pudesse ajudar

 

Olha-se para a guerra na Ucrânia e sente-se impossível a tarefa de António Guterres para conferir alguma sensatez aquilo que não o tem por todos quantos ali intervêm comportarem-se como se fossem miúdos quezilentos. A psicologia infantil poderia servir de alguma coisa se tivesse respostas eficazes para atitudes desviantes, mas desconfio só o cansaço vir a atenuar os efeitos daquilo que ainda decorre da exaltação de todas elas.

Putin funciona como o puto malcriado e zaragateiro, que decidiu fazer catarse das suas frustrações, impondo violento bullying  sobre o vizinho a quem anda a queimar os brinquedos espalhados pelo quintal que, em parte, ocupou. Zelenskii é o miúdo chorão, que está a ver tudo quanto tem reduzido a cacos e por isso pede que o venham ajudar.

Biden é o filho do dono das fábricas de fósforos e de óleos, que vê a oportunidade de assegurar bons negócios à família atirando com quantidades prodigiosas de materiais capazes de ainda mais atearem o fogo ali espalhado. E os líderes europeus são aqueles desorientados colegas de uns e de outros, agora muito espantados por terem-se atrevido a atirar umas pedradas ao zaragateiro e agora levarem com umas quantas em troca, que dizem não condizerem com o que deveria ser lícito na brincadeira. Para tudo culminar aquele que avançou sobre o quintal do vizinho já avisou que não se coibirá de usar pedras mais contundentes se continuarem a provoca-lo.

Que fazer no meio desta barafunda? Decididamente não sei, nem Guterres pareceu apresentar ideias melhores nas suas visitas à casa de cada um dos beligerantes. Também ele a carpir-se, considerou absurda qualquer guerra no século XXI, como se o não fosse em qualquer século passado ou futuro. Porque a paz deveria ter sido valor imposto como indissociável de ser-se humano e para ela batalharam muitos dos que integravam os antigos Conselhos pela Paz, e tinham na pomba de Picasso o seu símbolo. Mas, nessa altura, eram os falcões do Pentágono, que a desfeiteavam multiplicando-se em intervenções fora das suas fronteiras e sem olharem para as convenções que, sem pejo, violavam. Nessa altura tudo faziam para legitimar a ideia da guerra como intrínseca, incontornável ao próprio Homem. E assim chegámos ao trágico estado em que estamos.

E há, é claro, os que assistem da bancada, tomando partido por uns ou por outros, e nada ajudando a sossegar as almas desavindas.

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