segunda-feira, 18 de abril de 2022

A Leste pouco de novo a registar

 

1. Quinquagésimo terceiro dia de guerra na Ucrânia e até os mais entusiastas apoiantes de Zelenskii estão a dar provas de cansaço, talvez por ressair-lhes uma evidência, que já era clara desde o primeiro dia: ali se trava impiedosa batalha entre a decadente Rússia e a periclitante América, dois impérios a contas com uma geopolítica, que a ambas menoriza perante a paciente China, que anseia tomar-lhes o lugar dominante. E, como diz o conhecido provérbio africano, quando dois elefantes se disputam na savana, quem se lixa é quem está por baixo. Que, neste caso, é quem vive na Ucrânia, considere-se ucraniano ou russo (porque muitos há que também o são).

Difícil tem sido, nestes dias, não passar por pró-putinista ou por pró-americano a quem olha esta guerra com outros tons, que os não abertamente maniqueístas…

2. Zelenskii, no desespero de quem viu-se-lhe abrir uma caixa de Pandora e não sabe como a fechar, destempera-se, ofende a Alemanha ao recusar a visita do presidente alemão a Kiev e a França ao «corrigir» as opiniões de Macron, como se a persistente tentativa deste último conseguir uma travagem no conflito fosse de desconsiderar. O que não admira: apostando fortemente na receção de muito armamento vindo dos EUA, e acreditando na possibilidade de uma vitória militar, que o mitifique no imaginário do seu povo, não hesita em proclamar-se avesso a negociações de paz, preferindo explorar o impiedoso sofrimento a que o sabe condenado.

3. No entretanto, Ursula von der Leyen e alguns dirigentes europeus, que têm lançado mais óleo para a fogueira do que tentado apaga-la, vão-se iludindo num registo de wishful thinking. Agora a presidente da Comissão Europeia até já sonha com a falência do Estado russo como se o amesquinhamento do maior país do mundo em superfície e, sobretudo, com tantas riquezas que abrisse amplas possibilidades a quem, de fora, as fosse explorar em substituição dos execráveis oligarcas, mesmo sem que isso implicasse substancial melhoria de vida para o povo russo. Sobretudo, porque em questão de exploração capitalista, não existem propriamente, anjos de um lado e demónios do outro. Em todos eles existe um evidente odor a enxofre… 

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