segunda-feira, 4 de abril de 2022

Pagando aquilo para que não fomos tidos nem achados

 

1. Prossegue a guerra na Ucrânia com um certo «consenso» a querer-nos ser vendido como aceitável: o processo de paz passará pela neutralidade constitucional dos agora atacados relativamente à NATO, mas compensada pela rápida entrada na União Europeia.

Porquê? Está-se mesmo a ver: como ninguém conseguirá impor a Putin o pagamento da reconstrução das cidades destruídas, chama-se os europeus à colação. Ou seja, os dinheiros, que deveriam ser distribuídos pelos 27 sob a forma de apoios ao desenvolvimento das suas economias, acabarão direcionados para Kiev, tornando-nos involuntários contribuintes dos desvarios belicistas a leste. Quando para tal não fomos tidos nem achados...

2. Se há muito boa gente a querer que Putin responda no Tribunal Internacional de Haia pelos crimes de guerra, que lhe são imputados, não se vê o mesmo entusiasmo nas autoridades norte-americanas em a tal o obrigar. Pudera! A Casa Branca e o Pentágono sempre impuseram a não sujeição norte-americana a essa jurisdição internacional. Porque todos os presidentes norte-americanos - com a singular exceção, que foi Roosevelt, embora tenha sido quem comprometeu o seu país na Segunda Guerra Mundial! - teriam tido justificado assento no banco dos réus enquanto fautores de múltiplas e permanentes violações contra os direitos humanos. Mas os carniceiros gostam de a tal acusar os outros enquanto forma de se isentarem de tão óbvias culpas.

3. Mas talvez haja que contar com Nuno Melo para consegui-lo porque, tão-só eleito para a presidência do CDS, logo debitou arguta proposta para reformar as Nações Unidas.

Não há dúvida que, se está parco em dimensão, o partido do Largo do Caldas, não se poupa em ambição. É d’homem!

4. Não sei se, por sibilina habilidade, se por genuína surpresa, Luciano Alvarez tem feito diversas reportagens em Kiev com um «misterioso» estrangeiro de sotaque australiano, confessadamente a aí viver há doze anos e muito ativo na distribuição da logística de alimentos e equipamentos militares.

Não será porventura pelo hábito de vermos filmes de espionagem, que logo associamos esse Cid a tal atividade pró-ocidental. Dando razão a quem olha para o conflito em causa de forma menos emotiva e o sabe causado por jogos geopolíticos há muito desenvolvidos nos bastidores.

5. E, como sempre, dou inteira razão a Carmo Afonso quando escreve sobre quem se prende a leituras maniqueístas do que os telejornais lhes servem como provas irrefutáveis: “É difícil distinguir a informação que as máquinas de propaganda russa e ucraniana põem a circular da que nos chega através do verdadeiro trabalho jornalístico. Há outras máquinas de propaganda a trabalhar e estão todas ao rubro. É um facto.

Poderia pensar-se que ninguém aceita ser informado pela propaganda de guerra mas é um erro. Algumas pessoas querem precisamente receber informação que corrobore na íntegra a sua interpretação da guerra. Aplaudem quem noticia factos que deem razão ao que têm vindo a dizer. Têm pouca, ou nenhuma, margem para dar atenção ao que contradiz, ou que julgam contradizer, essa interpretação.

Em tempos de guerra o jornalismo é especialmente preciso, mas nem todos o querem. A mediação entre o acontecimento e as pessoas, como meio adequado ao exercício do espírito crítico por parte destas, deixa de ser uma necessidade coletiva. As pessoas preferem as evidências que deem razão ao seu acantonamento.”

Sem comentários:

Enviar um comentário