quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Dissabores atlantistas

 

Das reações à vitória talibã no Afeganistão a que foi mais censurada foi a do Bloco de Esquerda, ao enfatizar a derrota humilhante dos Estados Unidos com um gáudio capaz de acicatar as suscetibilidades dos mais persistentes defensores do logro atlantista. Manuel Carvalho, diretor do «Público» lavrou editorial furibundo sobre essa posição política, que teve resposta acutilante de Catarina Martins.

Embora em anos recentes me sinta quase sempre em desacordo com ela, como não dar-lhe razão, quando critica o consenso de certos colunistas em torno da mentira crassa de a intervenção dos Estados Unidos no país da Ásia Central nunca ter tido como motivação, que as meninas pudessem estudar ou as mulheres trabalhar? Se assim fosse - acrescenta a líder do Bloco - já há muito teríamos o Pentágono a avançar para a invasão da Arábia Saudita a pretexto da defesa das mulheres desse país.

O que acontece com a opinião política dominante nos jornais portugueses é essa desculpabilização do carácter invariavelmente imperialista dos Estados Unidos cujas agressões de outros povos assenta exclusivamente nos seus interesses de cada momento, escusando-se a qualquer ponderação sobre os efeitos de médio e longo prazo.

Podemos lamentar a desdita das meninas e mulheres afegãs? Claro que podemos, mas elas não podem servir de biombo para contestar o que é a atitude norte-americana e o seguidismo acrítico dos demais membros da NATO. Se estes são chamados a colaborar nas opções agressivas do aliado de além-Atlântico, secundando-lhes as ações militares com os seus próprios soldados, nem sequer são ouvidos, quando ele opta unilateralmente por aquilo que lhe vaib«  dando jeito.

Uma vez mais a NATO confirma ser uma organização cujo prazo de validade deveria ter sido definitivamente selado com o desaparecimento do Pacto de Varsóvia. E é isso que os nossos «atlantistas», dentro e fora do PS, não querem sequer escutar... 

1 comentário:

  1. Os EUA invadiram o Afeganistão porque foram atacados de forma massiva por uma organização terrorista sediada no País, e nem vale a pena vir dizer que eles são responsáveis pela criação dos Taliban ou de Bin Laden, o que até é em parte verdade.

    Se alguém o está a atacar com uma faca para o matar você defende-se, se necessário com força letal, e só depois se pergunta porque isso aconteceu.

    A questão da condução posterior da Guerra deve ser separada da razão pela qual ela foi iniciada. Aliás, a invasão, contrariamente à do Iraque, teve o aval da ONU.

    Dizer o contrário seria como afirmar que os EUA deveriam ter-se mantido neutrais após Pearl Harbour (e pedido aos japoneses a extradição pelos responsáveis morais do ataque, como vi sugerido no 11 de Setembro por alguns cobardes que queriam reduzir este ato a um mero caso de Polícia, para não terem de fazer nada), só porque depois recorreram a bombardeamentos massivos contra populações civis na Alemanha e no Japão, chegando a usar duas armas nucleares neste último País.

    A Guerra no Afeganistão foi feita 'on the cheap' até porque Bush e sequazes já estavam preocupados com o Iraque, cuja invasão foi, essa sim, um crime de Guerra.

    O BE (e o Jorge Rocha) estão contentes com a derrota humilhante dos EUA e dos seus aliados (nós incluídos)? Qual é a alternativa que defendem a uma ordem internacional liderada (mais mal do que bem, claro) pelos EUA?

    Os candidatos a potências hegemónicas (China e eventualmente Rússia) são centenas de vezes piores que os EUA... Ou preferem o caos de todos contra todos?

    Não, não me venham falar das nações soberanas que vivem em harmonia que isso dá é vontade de rir... Se acreditam nisso ou são ingénuos, ou tolos, ou as duas coisas...

    Numa altura em que precisamos mais do que nunca de liderança no contexto da crise climática? Poupem-me...

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