terça-feira, 17 de agosto de 2021

As nódoas de Biden

 

Joe Biden veio dizer que não se arrepende da entrega do Afeganistão aos talibãs mas as terríveis cenas de gente desesperada no aeroporto colam-se-lhe da mesma maneira que nunca se dissociaram de Gerald Ford quando Saigão caiu em 30 de abril de 1975. E a humilhação norte-americana pelos talibãs, que haviam sido expulsos do poder há quase vinte anos, na sequência do 11 de setembro, é equivalente à proporcionada pelos khomeinistas em Teerão, quando Jimmy Carter era presidente em 1979.

Biden associa-se assim a dois dos mais fracos presidentes norte-americanos da segunda metade do século transato. E conhecerá provavelmente o mesmo destino: se Ford nem se atreveu a concorrer a novo mandato, Carter viu-se derrotado por Reagan, cuja perfídia levara a negociar secretamente com os iranianos para que a libertação dos reféns se verificasse com ele na Casa Branca.

Ao contrário do que me dizia ontem alguém muito próximo até nem é a primeira nódoa no curriculum daquele que celebráramos como presidente apenas porque a alternativa era incomensuravelmente pior. Já na crise cubana ele não só fizera orelhas moucas aos pedidos de muitos dirigentes ocidentais para que acabasse com o bloqueio à ilha caribenha, como, ademais, prometeu avançar para uma espécie de Baía dos Porcos digital. Anteriormente não se pode esquecer que secundou George Dabliú na decisão de avançar para as suas guerras no Afeganistão e no Iraque, como foi cumplice desse grande logro político chamado Barack Obama, cuja marca de passagem pela presidência acabou por ser uma mão vazia e outra cheia de nada.

Se nas primárias do Partido Democrata para as eleições de novembro transato a minha preferência fora outra (Elizabeth Warren), Biden vai-me confirmando todas as razões para concluir que é mais um caso de erro de casting.

O mesmo que vai ocorrendo no Partido Trabalhista inglês com Keir Starmer. A agora anunciada decisão de expulsar Ken Loach (o realizador do imperdível «Eu Daniel Blake») só confirma a mesquinha perseguição a todos quantos se tinham associado a Jereny Corbyn e haviam condenado a campanha de mentiras lançada contra o suposto antissemitismo deste último. Se os apaniguados de Tony Blair querem evitar que se repita o regresso do partido às suas origens ideológicas, pugnando por um socialismo consequente e não apenas de fachada, vão cavando ainda mais a inevitabilidade de humilhantes derrotas futuras.

1 comentário:

  1. Portanto, o meu caro Jorge Rocha defende o regresso de Trump?

    E quando à suposta capacidade da Esquerda socialista britânica em ganhar eleições, bom a História mostra que Michael Foot e Jeremy Corbyn não foram exactamente bem sucedidos... A população britânica é conservadora (com c pequeno) e não há como dar a volta a isso.

    E Warren (a minha candidata favorita) nunca ganhou tracção e Sanders foi simplesmente cilindrado pelo voto negro em Biden...

    A situação é mais ou menos esta. A Esquerda constitui talvez 30% do eleitorado nos Países ocidentais (em Portugal talvez 25%, já que a grande maioria dos eleitores do PS é bem centrista). Portanto, você e os seus podem votar no centrista António Costa pensando que estão a votar numa grande coisa ou podem abster-se e deixar que a Direita tome conta disto.
    Se se atreverem a eleger um Nuno Santos com a retórica de 2011-2012, nunca mais a Esquerda tomará conta do poder...

    Mesma coisa para os idiotas apoiantes de Mélenchon em França (e esses são mesmo idiotas, como você bem documentou aqui atrasado). É Macron ou então Le Pen. Que preferem?

    Os Esquerdistas podem escolher a cor que quiserem, desde que seja preto...

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