segunda-feira, 10 de junho de 2013

POLÍTICA: o rapto oficial de crianças britânicas

Tony Blair já deixou de ser primeiro-ministro há uns anos, mas o seu legado continua a pesar sobre o destino de milhões dos seus compatriotas. Porque à boleia da propalada «terceira via», ele prosseguiu as políticas antipopulares de Margaret Thatcher na distribuição de rendimentos cada vez mais desigual entre os muito ricos e os que pouco têm para além dos patamares da sobrevivência.
A coligação com Bush para agredir o povo iraquiano constituirá igualmente um daqueles crimes que seria lícito ver sancionada pelo Tribunal Internacional de Haia se este cumprisse os objetivos por que foi criado.
Mas não foi só nesses âmbitos mais conhecidos, que a governação de Blair nada teve de esquerda. Criminosa foi igualmente no terreno legislativo com a criação de orientações absurdas e anti-humanitárias. Um exemplo é o rapto de crianças inglesas das suas famílias para as entregar para adoção por se ter constatado um défice de oferta para a procura de progenitores potenciais.
Sujeitos a objetivos quantitativos e a prémios no caso de os superarem os serviços sociais britânicos passaram a rivalizar entre si para «descobrirem» crianças sujeitas a negligência ou a maus tratos e a retirarem-nas das famílias com a cumplicidade de tribunais complacentes com as provas mais que ambíguas a eles levadas.
Resultado: famílias destroçadas por se verem coercivamente afastadas das crianças, que tinham gerado e a quem iam educando com afeto e orgulho.
Um exemplo, pois, de como as legislações criadas em função de números afixados em folhas de excel, acabam por gerar excessos totalitários em que as vítimas vêem-se no meio de processos verdadeiramente kafkianos.
A reportagem «Grande Bretagne: l’enfance volée», assinada por Stéphanie Thomas, Caroline Liebbrecht, Cécile Allegra e Nora Nervest, mostra o carácter endémico dessa transferência brutal, irreversível e rápida das respetivas famílias para outras dispostas a adotá-las à mínima suspeita de maus tratos.
Jackie e John Courtnage, Nicky e Mark Webster ficaram sem os respetivos filhos, espoliados pelos serviços sociais britânicos. Em poucos dias, senão horas. Essas decisões iníquas causam indizível sofrimento às famílias, que reclamam a sua inocência.
Passadas poucas semanas sobre a transferência das crianças em famílias de acolhimento, as crianças raptadas têm as suas fotografias expostas em catálogos das agências da adoção. O deputado John Hemming estima que um terço dessas adoções são abusivas e apenas devidas ao «excesso de zelo» dos serviços sociais. Mas são raras as famílias que reclamam a sua honra, como Nicky e Mark Webster, os únicos a serem inocentados pela justiça inglesa … que não lhes devolveu, porém, os filhos que de que tinham sido espoliados.


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