segunda-feira, 17 de junho de 2013

FILME: «Agente Secreto 007» de Terence Young

Durante a Guerra Fria os temas dos romances policiais e de espionagem evoluíram para histórias em que os agentes secretos percorrem o mundo e lutam contra o comunismo pela conquista espacial e pela supremacia atómica.
Se tais romances suscitaram múltiplas adaptações, depressa esquecidas, nenhuma encontrou sucesso igual e duradouro ao das aventuras de James Bond, personagem criado pelo romancista Ian Fleming, intemporal e sem idade, que irá atravessar todas as épocas e sobreviver às mudanças sociopolíticas.
Tentativas similares, como as de "The Ipcress File" de Sidney J. Furie em 1965, com Michael Caine, ou "Our Man Flint" de Daniel Mann em 1966 com James Coburn, não conseguiram replicar esse modelo.
Em "Agente Secreto 007" estamos na Jamaica no início dos anos sessenta. Na sequência do assassinato de um agente inglês o agente James Bond (que possui licença para matar) é enviado por Londres para investigar o sucedido em Kingston.
Após escapar a sucessivos atentados ele consegue entrar na base do dr. No, um chinês, que lidera a organização secreta Spectre. Na sua misteriosa ilha, controlada por uma tecnologia sofisticada, esse génio do mal criou uma máquina atómica capaz de desviar qualquer engenho espacial norte-americano lançado de Cabo Canaveral.
Momentaneamente aprisionado James Bond consegue frustrar a sabotagem e destruir a base inimiga, ganhando finalmente disponibilidade para conhecer as formas concupiscentes da bela Honey, uma pescadora encontrada entretanto por essas paragens.
Dotado de um orçamento médio para a época (21 500 euros), que ninguém imaginava poder converter-se numa longa série de sucessos, encontram-se já os seus lendários ingredientes:
· um genérico influenciado pela pop art da autoria de Maurice Binder;
· um tema musical obsessivo e ameaçador de John Barry;
· a elegância e a sofisticação do protagonista, tão conhecedor de champanhe, quanto de mulheres ou de diamantes;
· o encontro com americanos boçais;
· as belas «bond girls», quantas vezes perigosas;
· o turismo e o exotismo;
· as perseguições e as cenas arriscadas com recurso a duplos;
· criminosos megalómanos;
· momentos de humor frequentes;
É emblemática a primeira cena em que 007 surge no filme e num ecrã de cinema: num casino e face a uma bela mulher, ele debita o seu nome de acordo com uma fórmula, que ficaria doravante estabelecida: «Bond … James Bond».
Ainda assim o maior sucesso, que estabeleceria as bases definitivas da série, só serão atingidas no terceiro episódio: "Goldfinger", rodado em 1964 por Guy Hamilton.
Em "Agente Secreto 007", Bond ainda recorre a armas convencionais já que as inovações e os carros dotados de equipamentos especiais estão reservados para o vilão. Só mais tarde é que Bond também terá acesso a tecnologia ultramoderna, entre a qual se conta o célebre Aston-Martin dotado de capacidades náuticas.
A primeira «Bond girl» foi Ursula Andress, a sereia em biquíni que emerge do mar a cantar um calipso, que revela uma pacífica inocência selvagem. Pelo contrário, ainda não está incumbido da sua missão pelo patrão dos serviços secretos e já Bond anda a flirtar com a secretária Moneypenny.
Os crimes surgem desdramatizados pelos silenciadores e o agente deverá aqui e ali passar pela experiência de se ver aprisionado para que possa obter uma visita guiada às instalações inimigas.
Ken Adam, um excelente decorador de origem alemã, dá o tom à série concebendo a base secreta do Doutor No, tal como se encarregará depois da sala de comando do "Doutor Estranhoamor" para Stanley Kubrick.
Mesmo se a marca de fábrica da série fique secundarizada, este filme inaugural é um dos poucos em que se vê Bond a transpirar de medo.
Depressa a série aproximar-se-á do risco de se parodiar a ela mesma, mesmo que procure de seguida o regresso ao realismo. Ela também evolui em função dos diferentes problemas do planeta: aqui o filme reflete o temor nuclear (com a longa sequência, discretamente erotizada, da descontaminação de Bond e de Honey), mais tarde chegará a ir ao espaço ("Moonraker", 1979).
A figura do Dr. No insere-se na mesma tradição folhetinesca do Fu Manchu dos anos 30. O nome No foi provavelmente inspirado pelo Nemo da "Ilha Misteriosa" de Júlio Verne e é um chinês marginalizado pela rivalidade entre os dois grandes blocos Este– Oeste e decidido a vingar-se dessa humilhação.
Aqui o vilão (tradicionalmente um estrangeiro com sotaque carregado) tem ainda outra característica visível: a sua mão artificial.
Quando chegou a esta produção Sean Connery ainda era um ator escocês pouco conhecido e que viria a converter-se em estrela mundialmente conhecida graças à série. Mais tarde não deixaria de escapar à personagem e impor-se num cinema de ação com personagens mais complexos. Razão porque outros atores se encarregariam da interpretação de Bond, desde George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton, Pierce Brosnan ou o atual Daniel Craig.
Com essas mudanças de atores e de épocas, vão-se ensaiando algumas mudanças, ora humanizando, ora virilizando o personagem, ora escondendo-o atrás dos gadgets, ora acentuando-lhe os traços de carácter.
Ainda assim, para a maioria dos espectadores, Sean Connery continuará a ser a referência inultrapassável no que diz respeito à ilustração da personagem...



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