quinta-feira, 6 de junho de 2013

LIVRO: «L'Origine de la Danse» de Pascal Quignard

Um dos escritores franceses mais interessantes dos últimos anos tem sido Pascal Quignard.
Devemos-lhe uma preciosidade intitulada «Todas as manhãs do Mundo» (1991), posteriormente levada ao cinema por Alain Corneau, aonde a austeridade de Marin Marais contrastava com o arrivismo de um Sainte Colombe, completamente rendido às futilidades da corte de Versalhes. Ou também um encantado testemunho sobre o seu encontro com a especificidade dos painéis de azulejo do Palácio de Fronteira.
No livro acabado de publicar em França - «L’ Origine de la Danse» - o escritor volta ao Havre da sua infância, que ainda recorda como palco das suas brincadeiras nas ruínas geradas pelos bombardeamos da aviação aliada nos anos anteriores ao do seu nascimento. E alia essas memórias sofridas - porque marcadas por um comportamento na fronteira do autismo! - à dança butô, inventada pelos japoneses já depois da estupefação suscitada pelos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki.
Nos anos anteriores a este seu livro de memórias, Quignard colaborara com Carlotta Ikeda, bailarina desse género de dança, num espetáculo concebido em torno do mito de Medeia, essa mãe terrível capaz de matar os seus filhos, a exemplo desta civilização presente também ela esquecida da essência humana de quem lhe sofre as consequências e capaz de reduzir essas vítimas a meros indicadores económicos inseridos em folhas de excel.
Não se tratando de romance, nem propriamente de um livro autobiográfico, «L’Origine de la Danse» tem muito a ver com o género burilado por Quignard, em que fragmentos ficcionais, memorialistas e eruditos se congregam para gerar um texto de aliciante descoberta.


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