sábado, 27 de abril de 2024

O probiótico de espectro alargado

 

1. Neste que é o primeiro fim-de-semana depois da impressionante manifestação dos últimos anos importa relevar o suplemento anímico suscitado em quem somara desalento à deceção causada pelos resultados das eleições mais recentes. Se o poltrão do  partido neofascista já sonhava com passadeiras desenroladas à sua frente para chegar ao poder, ou o ex-eremita de Massamá se via dividido entre que palácio - São Bento ou Belém - tomar por residência, muito lhes devem ter arrefecido os entusiasmos por demonstrar-se a vivacidade das esquerdas, que provaram a vontade de porem cobro ao sucesso do golpe de Estado, agora também a replicar-se em Espanha.

Prova-o, porém, o regresso de Lula ao Palácio da Alvorada, que não há conspiração das direitas capaz de perdurar: mais cedo ou mais tarde, a política retoma o interrompido percurso, apenas com alertas reforçados para melhor se vacinar contra quem insiste em rodar a História para trás.

2. Não é que acredite na presença da procuradora-geral Lucília Gago na Assembleia da República para explicar-se, mas a proposta de Aguiar Branco surpreendeu pela positiva. A cobardia da senhora - sempre decidida a não se responsabilizar pelos danos da sua ação e dos que protege! - levá-la-á a fazer ouvidos de mercador ao que lhe pediu o presidente da Assembleia da República, porventura já candidato a investigação sumária de uma das equipas infiltradas do Chega no DCIAP. Mas seria positivo que o PS e o PSD, particularmente visados por quem não se importa de forjar denúncias para dar primeiras páginas aos tabloides, forçassem à concretização dessa sugestão para melhor encaminhar o ministério público para a decência, que alguns dos seus titulares não têm revelado.

3. Não é, pois, apenas na campa de Salazar que se justifica o uso do probiótico de Bordalo II. A manifestação desta semana elucidou o desejo reforçado de milhões de portugueses para que se ministre a Liberdade aonde ela mingua, quer na forma de preconceitos racistas e xenófobos, misóginos e homofóbicos, quer em tudo quanto falta cumprir na Constituição saída da Revolução - e entretanto tão desnaturada! -, que exigia maior igualdade e justiça para quem a não tem. Sobretudo no que aos direitos fundamentais - o pão, a habitação, a saúde e a educação - dizem respeito. 

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