quinta-feira, 25 de abril de 2024

Abril, Revoluções adiadas mil

 

1. A questão ainda agora posta, pelo Paulo Alves Guerra na Antena 2, surpreendeu-me deveras: será que existe muita gente a sentir esta como a última vez em que se dá tanta importância ao 25 de abril? Haverá um progressivo esquecimento da efeméride nos anos vindouros, um pouco como sucedeu com o 5 de outubro, hoje quase reduzido a feriado nacional ?

Quero crer que assim não será: enquanto o regime republicano está consolidado não sendo crível que o tonto Pio, ou um dos seus sucessores, sentem o traseiro num trono real, a Democracia não está assim tão firme no inconsciente nacional não faltando quem suspire por líderes providenciais. Daí que, no ano que vem e nos que se seguirão - mesmo quando o Chega for epifenómeno dado como morto e enterrado! - fará todo o sentido proclamar sempre o 25 de Abril e o fascismo nunca mais!

2. Uma das opiniões mais ousadas - mas que subscrevo sem pejo! - foi formulada nos dias mais recentes pelo jornalista António Marujo: a urgente substituição do vetusto hino nacional pelo Grândola Vila Morena.

Faria bem mais sentido proclamar a importância de ser o povo a mais ordenar do que contra canhões marchar, marchar...

3. Com toda a justiça juntou-se gente um bocado ambígua (Guilherme d’Oliveira Martins, Álvaro Vasconcelos) para homenagear Mário Soares na Fondation Maison des Sciences. E a eles se juntou, mesmo que pela net, o Edgar Morin a valorizar o que menos nele interessa: a fase do PREC, quando enfatizou o anticomunismo e andou de braço dado com o chefe da CIA em Portugal (Carlucci).

Continuo convencido, que nunca Álvaro Cunhal supôs possível a repetição de uma revolução bolchevique no Portugal de então, nem terá encontrado artes de contrariar uma dinâmica, que visaria devolver os meios de produção aos mesmos de sempre.  Terá sim, porventura, secundado Sebastião Salgado, numa outra esperança agora recordada numa entrevista singular: “a gente acreditava que Portugal ia ser completamente de esquerda”.

Vale que, depois como presidente, e sobretudo no período da troika quando sinalizou o caldo de cultura propício para formar-se o governo da Geringonça, Mário Soares contrariou a imagem alimentada nesse pós 25 de abril e reencontrou-se com o lutador antifascista o tempo salazarista-marcelista.

4. No extremo oposto o cabeça de fila da AD para as eleições europeias viu Carmo Afonso lembrar a queixa, depressa abandonada e arquivada, de uma antiga namorada quanto à violência com que foi por ele destratada.

Perante a sua falta de chá, senão menos malcriadez, não espanta esse episódio que justificaria melhor indagação pelo jornalismo de investigação. A violência doméstica é crime público e não deve haver complacência com quem a comete. Seja ou não cometa (esperemos que fugaz!) da direita sem escrúpulos.

5. Sem surpresa Fernando Araújo demitiu-se da liderança da Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde não chegando a comprovar a bondade das suas soluções.

Espera-se o pior para aquela que foi uma das mais prodigiosas heranças da Revolução e que as direitas quererão, definitivamente, garantir como chorudo negócio para os interesses privados.

6. Mas falando de direitas sem escrúpulos, que dizer da aprovação pelos conservadores ingleses da deportação para o Ruanda de todos os candidatos a asilo político, mesmo dos que para eles trabalharam no Afeganistão? Hipótese também já em vias de ser secundada pela Itália com o beneplácito da Albânia?

E que dizer da continuação do indecoroso apoio norte-americano a Israel, quando é o Departamento de Estado a publicar relatório a confirmar o que outras fontes (invariavelmente acusadas de antissemitas!) já proclamavam: violações odiosas de direitos humanos contra palestinianos, incluindo assassínio arbitrários ou ilegais, incluindo execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados, tortura e tratamento desumano ou degradante?

E o que dirão os financiadores da Ucrânia (nós incluídos) quando rebenta mais um escândalo: o do ministro da Agricultura a locupletar-se com a aquisição ilegal de terrenos no valor de sete milhões de euros, quiçá para garantir auspicioso futuro num pós-guerra, que tende a apressar-se com a vitória de Putin? 

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