sábado, 13 de abril de 2024

Afinal eles nem sequer chegam a ser trogloditas!

 

Há um paralelo entre a máxima científica de se aceitar algo como verdade até desmentirem-nos as provas em contrário, com a revisão de alguns conceitos apressadamente coaptados para o léxico das ofensas substantivas dirigidas a alguém.

Burro, por exemplo. Quem se atreve ainda a apodar alguém com esse insulto, quando se conhece a verdadeira inteligência e simpatia dos burricos?

Palhaço é outro exemplo lapidar, sobretudo desde os gags de um cómico brasileiro que demonstrava como alguns poderes pretendem imporem-nos poses de bobos, quando não  sentimos nenhuma predisposição para tal.

Agora impõe-se a revisão de outro conceito depois de a ele associarmos aquela tremida gente, que se perfilou perante o “sábio” discurso de Passos Coelho. E mudei o adjetivo inicial, que os desqualifica por afinal eles não serem tremendos no despudor com que surgiram a defender tão esdrúxulas opiniões sobre o papel da mulher e a caracterização da família. Antes justificam a ideia de tremidos porque, como escreveu Luciana Leiderfarb, move-os “a raiva de não poderem controlar que o mundo mudou, mas eles não”, concluindo que “o problema é deles, não nosso”.

Inês Pedrosa ponderou na versão de trogloditas mas propôs-lhes outra designação à luz do que se vai sabendo sobre o papel feminino na época pré-histórica: as mulheres eram não só guerreiras assanhadas (e não só recolectoras de frutos!), mas também lhes devemos muitas das pinturas rupestres, que conhecemos. Nada que leve a associá-las às ideias de passividade ou de secundarizadas no exercício das artes, movesse-as ou não estímulos ritualistas.

Em termos civilizacionais os trogloditas batiam aos pontos os participantes e os autores dos textos incensados pelas direitas mais extremas. E não vejo nenhuma admiração por, entre eles, figurarem Manuela Eanes ou Guilherme de Oliveira Martins, porque quem não quer ser lobo, rejeita vestir-lhe tão convictamente a pele.

Mas, já que estamos a rever conceitos e pegando nos lobos... Bom, fica para a próxima vez, porque o tema afigura-se extenso e adequado a outras futuras perorações! 

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