terça-feira, 2 de abril de 2024

À espera do vórtice

 

Tivesse António Costa apresentado um governo com as características deste que Marcelo hoje empossará, e não faltariam comentários depreciativos nas televisões. Uma equipa só com gente do próprio partido, a inexistência de independentes oriundos da mítica “sociedade civil” e nada se saber sobre quantas das mirabolantes promessas eleitorais deixará pelo caminho, tudo justificaria a atitude desdenhosa, que mereceria de tal gente.

Ao invés, sendo um governo de direita, é vê-lo ornamentado de enfáticos elogios, como se fosse um impossível bando de águias. E, no entanto, nem os bajuladores, ao serviço dos interesses de quem os guindou à condição de figuras mediáticas, conseguem iludir a fraqueza de um elenco, que sabe-se de vida curta, sempre à espera de um percalço suficiente para lhe fazer soar as trinetas da maldição que o acompanham desde o primeiro dia.

E será funesta ilusão a de Montenegro se se julgar a palmilhar as pegadas de Cavaco Silva em 1985: nem o Chega é o PRD, nem o Partido Socialista ´conta com uma liderança ferida pelo sangramento causado pela cisão promovida por Ramalho Eanes.

Em mares desconhecidos os navegadores precisavam de lucidez, mas também muita argúcia, para lidarem com os sinais de tempestade, ou de bonança, que divisavam no horizonte. Ora, para além de saber calar-se para poupar-se aos disparates mais imediatos, Montenegro não disfarça a miopia de quem só vê o que lhe está mais próximo. E não consta, que conte com binóculos miraculosos capazes de lhe evitarem a atração pelo vórtice final, o do desfazer do breve contentamento de se sentir talhado para destino maior do que o dos seus parcos talentos...

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