Não soubéssemos que atrás de tempos, tempos vêm, e os atuais prefigurariam demasiados sinais para que nos sentíssemos pessimistas, não só pelos riscos de uma escalada na guerra na Ucrânia, alcançando patamares nunca vistos desde a Segunda Guerra Mundial (as bombas nucleares enquanto ferramentas de afirmação de uma política agressiva), mas, sobretudo, pela sucessiva escalada das extremas-direitas que somam à Polónia e à Hungria, mais um país europeu em que os (des)governantes se arrogam da máxima Deus, Pátria, Família.
Quer isto dizer que, perante o ocaso colossal das esquerdas, só teríamos como saída as soluções desesperadas assumidas por Virginia Woolf ou Stefan Zweig, quando julgavam invencíveis as hordas nazis? Claro que não, mas exige-se às esquerdas, que o sejam com determinação e contrariando ativamente o que tem sido a crescente ocupação do campo ideológico contrário nos espaços mediáticos, políticos e culturais.
Uma das manifestações da tibieza nas esquerdas, e sobretudo na do Partido Socialista, é a aversão à palavra “Socialista”. Ouve-se António Costa ou mesmo Pedro Nuno Santos, e espantamo-nos com a sua assumpção como «sociais-democratas» como se tivessem vergonha de serem aquilo que o próprio nome do partido impõe que o sejam.
Queremos ou não uma mudança completa da sociedade, tornando-a mais justa e igualitária? Temos ou não amplas demonstrações em como a sustentabilidade da civilização humana no planeta não será possível com a continuação de um tipo de economia regida pelas regras do mercado? Não aprendemos já o suficiente com a ampla demonstração em como os capitalistas não conhecem freio na sua ganância, vivendo num autêntico forrobodó desde que a implosão da União Soviética acabou com o medo de uma alternativa contra a qual tinham de revelar a intenção de contruírem uma sociedade de bem-estar para todas as camadas sociais incluindo as que não se enquadravam na tal classe média para que reclamavam governar?
Teoricamente seria esta sociedade de bem-estar, que os «sociais-democratas» de hoje pretenderiam recuperar tomando por exemplo as sociedades nórdicas dos anos 70, entretanto já também elas objeto de declaração de óbito pelos putativos herdeiros dos líderes desse passado.
Parecem ser poucos os que recordam os princípios básicos da política segundo os quais as sociedades organizam-se de acordo com os meios de produção de cada momento. Ora essa social-democracia do passado tornou-se numa impossibilidade científica numa altura em que o pós-globalização não trava um tipo de economia, que assenta na precarização dos empregos e a sua exiguidade para as gerações mais novas. Que, pela primeira vez, tomam como certa a perspetiva de verem o tradicional ascensor social só aceitar como destino os pisos inferiores aos que chegaram os seus pais.
Numa altura em que as extremas-direitas andam a demonstrar que não têm soluções exequíveis para corresponderem aos desafios do futuro e em que o novo governo inglês está a partir os dentes com a tentativa de impor as receitas ultraliberais, é altura das esquerdas fincarem os pés onde estão e daí partirem, resolutamente, à conquista do terreno político e cultural perdido nas últimas décadas. Mesmo contando com a quase exclusiva ocupação do espaço de opinião pelos que a diabolizarão como verdadeiro inimigo, importa lançarem uma Revolução tão definitiva quanto as do passado quando antigos regimes davam lugar aos que coincidiam com os imperativos das épocas seguintes.
Tem toda a razão, a liderança do Partido Socialista não se assume como tal!
ResponderEliminarMuitos dizem-se "republicanos e laicos" aliás, era uma expressão de Mário Soares!
A falta de clarificação conduz à actual situação em que a direita parece ultrapassar
as esquerdas, dada a acentuada queda do PS nas sondagens que, valem o que valem!